Ao fim de uma hora e meia de aula, a aluna Michelle Amorim, de 17 anos, estava surpresa com o que aprendeu: em alguns meses ela pode se candidatar ao cargo de deputada ou apresentar um projeto de lei, se tiver apoio de uma parcela da população. Ela estuda na Escola Estadual Alberto Torres, no Butantã, zona oeste de São Paulo, uma das unidades que receberam o Projeto Constituição na Escola, desenvolvido por jovens advogados para ensinar estudantes do ensino médio sobre direitos e deveres constitucionais.

“A gente tende a falar que não gosta de política ou de Direito porque é difícil, chato. Na verdade, é porque o assunto nunca entra na prática, nunca nos falam como isso influencia nossa vida e como podemos participar”, diz Michelle.

O projeto consiste em explicar o funcionamento da estrutura política, da Constituição e os direitos e deveres dos cidadãos, com exemplos que vão de situações que estão no noticiário a outras do cotidiano dos jovens, como os “nudes” ou os “rolezinhos”.

O advogado Felipe Neves, criador do projeto, conta que a ideia surgiu da vontade de ajudar uma escola estadual que estava sem professores. “Liguei para a direção e me apresentei como voluntário para dar aula nesses horários.”

Como a primeira palestra teve boa recepção, Neves procurou outros colégios para levar lições sobre a Constituição. Em 2016, visitou seis escolas. No primeiro semestre deste ano, ele diz que o projeto vai chegar a cem escolas da rede estadual. “Percebi que há muito desconhecimento entre os alunos, mas há também muito interesse e vontade de aprender.”

Neves afirma que pretende ampliar o projeto para 50 novas escolas a cada semestre e também para novos Estados – o primeiro será a Bahia. A limitação para a expansão é o recrutamento de novos voluntários. “Precisamos de pessoas dispostas a dar aula sem expressar sua opinião política, sem filiação partidária. Nós sabemos as leis, somos formadores de opinião ao falar, e é preciso muito cuidado com essa atuação em sala de aula.”

Além das palestras, há a Olimpíada Constitucional. A competição propõe aos estudantes elaborar uma redação. No ano passado, 700 alunos participaram – para a segunda edição, a expectativa é de ter 10 mil inscritos.

Uma das vencedoras da primeira competição decidiu cursar Direito após a experiência. “Nossa intenção não é estimular a escolha pelo curso, mas acontece involuntariamente. Nosso objetivo é apenas passar uma informação que todo cidadão deveria saber, seja advogado, médico ou professor”, diz Neves.

O projeto fez com que o trabalho de Neves fosse reconhecido por entidades, o que, segundo ele, incentivou a ampliação. Em 2016, o advogado foi um dos escolhidos pela Young Leaders of The Americas Initiative, lançada pelo então presidente americano Barack Obama para reconhecer propostas inovadoras na solução de problemas sociais. Também recebeu menção honrosa do Prêmio Innovare, que identifica iniciativas inovadoras no sistema de Justiça brasileiro.