Com a extrema direita brasileira execrada após o 8 de janeiro e com Bolsonaro no limbo por causa dos malfeitos que praticou como presidente, a direita está sem rumo e tenta se rearticular para fazer oposição a Lula. Ainda é cedo para saber se o ex-presidente conseguirá liderar esse segmento do eleitorado, pois os três meses que passou flanando em Orlando o tiraram do cenário político e o vácuo que deixou no campo do espectro que o elegeu presidente em 2018 passou a ser ocupado por outros atores da política nacional.

Como em política não existe espaço vazio, um desses novos expoentes da centro-direita brasileira, que passou a se destacar na ausência do ex-capitão, tem sido o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O ex-juiz percebeu que havia uma oportunidade para crescer nesse vazio deixado pelo ex-mandatário, que preferiu “fugir” do Brasil para não ter que passar a faixa presidencial a Lula.

E por incrível que pareça, foi o próprio Lula, líder da esquerda, que propiciou a recuperação política de Moro, que estava com a imagem abalada após ter sido considerado “parcial” nas sentenças judiciais dadas contra o líder petista. Os advogados do atual presidente conseguiram derrubar as denúncias no STF, propiciando-lhe o terceiro mandato, mas não conseguiram destruir a reputação do ex-juiz em seu Estado, o Paraná. Lá, ele ainda goza de prestígio eleitoral e, por isso, foi eleito senador, derrotando o favorito Álvaro Dias, que tinha 28 anos de atuação no Senado.

O vácuo que Bolsonaro deixou no campo do espectro que o elegeu presidente em 2018 passou a ser ocupado por outros atores da política

Ao atacar o ex-juiz de forma viril, Lula deu combustível para Moro ressurgir no cenário nacional, ao ponto de cientistas políticos entenderem que o senador paranaense pode fazer frente à liderança de Bolsonaro no agrupamento da direita. O petista ressuscitou o ex-juiz ao declarar que quando estava na cadeia dizia a interlocutores que “só iria ficar bem quando foder com o Moro”. Isso pegou mal e o ex-juiz ganhou espaço na mídia.

Se não bastasse, no dia seguinte Lula fez mais uma barbeiragem que colocou o senador na ribalta. Disse acreditar que não passavam de “armação” as denúncias de que o PCC tinha planos para matar autoridades, entre elas o ex-juiz. O próprio promotor do caso, Lincoln Gakya, desmentiu o mandatário e Moro saiu como vítima de um presidente supostamente vingativo. Percebendo que seu ex-ministro vinha ocupando espaços da direita deixados por sua deserção, o ex-presidente não tardou a anunciar que voltaria ao Brasil nesta quinta-feira, na tentativa de retomar a primazia de líder da direita. A diferença é que o ex-juiz não compactua com a extrema direita raivosa, que prega golpes militares. Resta saber qual dos dois Lula vai escolher para manter a polarização política, que tanto lhe interessa.