Ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu afirmou neste domingo, 14, que a direita “está ganhando” a disputa política e cultural no Brasil e defendeu uma “atualização política, teórica e de organização” para o PT. As declarações foram dadas em entrevista ao Pod13 Bahia, podcast do PT da Bahia. Durante a conversa, Dirceu afirmou ainda que não só o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas legendas como o PP, Republicanos, União Brasil e PSD “estão ficando fortes”, construindo novos diretórios pelo País.

“O PT vai fazer um congresso em 2025. Precisamos pensar como vamos fazer uma mudança no PT”, afirmou o ex-ministro. “Se nós analisarmos a situação da direita, não é só parlamentar e eleitoral, também diretório, territórios e militância, PP, PR, PL, PSD, União Brasil, eles estão ficando fortes (…) Hoje, o Brasil está muito politizado, e em disputa político-cultural. E a direita está ganhando.”

Dirceu não faz parte do governo, mas ainda é umas das lideranças do partido. Na semana passada, ele acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular condenações que somam 32 anos na Operação Lava Jato. A defesa do ex-ministro pediu que o STF reconheça que ex-juiz Sergio Moro, hoje senador, foi parcial ao condená-lo.

Na entrevista, Dirceu reforçou autocríticas vocalizadas recentemente por Lula sobre a estrutura do partido. Segundo ele, a legenda poderia ser “dez vezes maior” dado ao apoio eleitoral e social da sigla. “Uma das tarefas principais é a disputa político-cultural e dos territórios”, afirmou. “Nesses anos, houve uma mudança social e cultural enorme. Por causa do fundamentalismo religioso, por causa da ocupação dos territórios por força dos partidos de direita. E nós recuamos. Vimos agora no primeiro de maio (de 2023). Não houve uma mobilização nacional.”

Na Conferência Eleitoral do PT, realizada em dezembro de 2023, Lula fez críticas à atual capacidade política da sigla. “Temos que nos perguntar por que um partido muitas vezes no discurso diz que tem toda a verdade e só conseguiu eleger 70 deputados. Por que tão pouco, se a gente é tão bom? Será que estamos tentando convencer o povo das nossas verdades ou temos que aprender com o povo para falar com eles?”, perguntou.

Militância

Lula sustentou, naquela mesma conferência, que a militância deveria retornar ao trabalho de base. “O dinheiro ainda pesa. Mas o trabalho de base não tem dinheiro que compre. E precisamos voltar a fazer trabalho de base”, afirmou. “Bota uma bota e vai visitar cada casa, conversar com as pessoas. Vá na igreja, converse com o pastor, com as mulheres e homens que estão lá”, disse.

Dirceu faz críticas indiretas à presidente do PT e defende Haddad

Indo em direção contrária ao que disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Dirceu disse que foi “quase uma covardia” não ter havido total apoio às propostas econômicas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Outro papel do partido é sustentar o governo, apoiar o governo. Quando o governo apresenta uma política, nosso papel é apoiar”, afirmou. “No caso do Haddad, é quase uma covardia não dar apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria. Porque todas as medidas que ele queria, transforma o déficit zero num mal menor.”

Gleisi e Haddad trocaram farpas ao longo do ano passado em razão da condução da política econômica nacional. A divergência continua em 2024.

No episódio mais recente, já neste mês, Gleisi disse, ao jornal O Globo, que criticar as decisões do ministro da Fazenda é “um dever” e faz parte da tradição do partido.

Dirceu acredita que PT pode ampliar número de vereadores

Além de dizer que o PT precisa “se reconstruir” e se atualizar ao que foi no primeiro governo Lula, Dirceu analisou que o partido pode ampliar o número de vereadores por causa da figura de Lula, mas também apontou que será preciso calcular parcerias políticas com outros partidos.

“Acho que podemos ampliar muito o número de vereadores. Lula tem 60% de voto em mais de 2 mil municípios brasileiros. Tem que eleger vereador nesses municípios, nem que seja um, dois”, disse. “Temos que disputar onde temos chances de vencer em cidades médias e grandes. E temos que nos apoiar nos aliados em que podem vencer. Nosso governo não é só do PT.”

Dirceu vê o MDB e o PSD como principais parceiros na construção do novo governo Lula. “(Além do PSB, PCdoB, PSOL, PV e PDT), esse é um governo que inclui PSD e MDB. Sempre digo: o PSD, o MDB e o PT (juntos) são 160 deputados e quase 40 senadores”, disse. “Isso não quer dizer que vamos ter unidade em questões econômicas”, observou.