A tempestade diplomática entre França, Austrália e Estados Unidos devido à crise dos submarinos é um “sinal de alerta” para a União Europeia, um bloco que precisa fortalecer sua união e autonomia, alertaram nesta terça-feira (21) os ministros de Assuntos Europeus.

“Entendo muito bem a decepção de nossos aliados franceses. É um sinal de alerta para todos nós na União Europeia”, disse o ministro alemão Michael Roth em Bruxelas.

O ministro acrescentou que os Estados do bloco europeu “devem se perguntar como fortalecer nossa soberania; devemos nos perguntar como podemos mostrar mais união nas questões de política externa e de segurança”.

Roth fez os comentários ao chegar a uma reunião dos ministros de Assuntos Europeus em Bruxelas. A crise que surgiu, em particular entre a França e a Austrália, não estava originalmente na ordem do dia da reunião, mas ao chegarem ao local de encontro ficou claro que se tratava de uma questão prioritária.

“É um problema europeu”, afirmou o ministro francês para o bloco, Clement Beaune.

“Acho que devemos, sem agressividade e sem antagonizar nossos aliados, ser mais soberanos, mais autônomos, mais capazes de defender nossos interesses e pensar por nós mesmos. Vimos isso na crise do Afeganistão e vemos isso nesta crise”, acrescentou.

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Beaune agradeceu o “total apoio” que os países da UE expressaram à França, alertando que seu governo não estava exagerando a seriedade do caso.

“Não acredito que a França esteja exagerando e não acho que a França deva fazer isso, mas quando a situação está errada, acho que é nossa responsabilidade dizê-lo muito claramente”, apontou.

Já o ministro sueco, Hand Dahlgren, comentou que os países europeus “têm de estar abertos ao mundo, de forma clara, mas também defender os nossos interesses estratégicos. Embora não o possamos fazer fechando-nos sobre nós próprios”.

– Reação irada –

Toda a UE reagiu sem esconder a sua indignação ao anúncio de uma aliança militar que une os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália, sem que Bruxelas tivesse sequer sido devidamente informada.

Como resultado do acordo, a Austrália quebrou um contrato multimilionário com a França para a compra de submarinos para optar por embarcações com propulsão nuclear dos EUA.

Nesta tempestade diplomática, a Comissão Europeia analisa o impacto que terá na primeira reunião agendada de uma comissão UE-EUA de Tecnologia e Comércio, prevista para a próxima semana.

“Estamos analisando o impacto do anúncio [sobre a aliança na área do Indo-Pacífico entre a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos, AUKUS) nessa agenda”, informou a Comissão em um breve comunicado referindo-se a essa reunião.

Uma fonte diplomática que pediu anonimato disse à AFP que a delegação francesa na UE sondava a ideia de adiar a reunião, embora não pareça ter encontrado o apoio esperado, especialmente entre os países bálticos.

Na segunda-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou ao canal CNN que o tratamento reservado à França nesse episódio era “inaceitável”.


A retirada dos EUA do Afeganistão, que foi negociada diretamente por Washington com o Talibã, marcou a primeira quebra óbvia nas relações transatlânticas, e a nova aliança militar AUKUS irrompeu com a força de uma crise.

O anúncio dessa aliança militar foi feito exatamente um dia antes da data prevista pela UE para apresentar sua nova estratégia para a região do Indo-Pacífico.

Foi precisamente na apresentação desta nova estratégia que o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, admitiu que a UE não tinha sido consultada ou informada sobre a aliança militar feita pelos três países.


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