O diplomata e ex-embaixador do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, Rubens Barbosa criticou a ideia de reciprocidade do governo federal contra a Casa Branca após a aplicação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e vê a necessidade de avançar em um acordo sobre o tema. Para Barbosa, a tentativa do governo de aplicar a mesma tarifa é “loucura” e pode prejudicar as empresas brasileiras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tem o decreto pronto para aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o Planalto a retrucar sanções aplicadas ao país. A ideia do governo é taxar produtos americanos também em 50%, mas a decisão só deve avançar a partir de 1º de agosto, quando a nova alíquota deve passar a valer.
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Entretanto, o presidente americano, Donald Trump, tem jogado duro contra o Brasil e prometeu dobrar a tarifa em caso de retaliação. Ele ainda determinou a abertura de uma investigação comercial contra o governo brasileiro, afirmando que a Rua 25 de Março, local de comércio em São Paulo, e o Pix são “concorrências desleais” aos americanos.
“O presidente Lula está falando que vai botar 50%, não existe isso. Se ele botar 50% em cima dos produtos americanos, o Trump bota mais 50% em cima do Brasil. Se for feito isso, será uma loucura contra as empresas brasileiras, contra o nosso interesse”, afirma Rubens Barbosa, que comandou a embaixada brasileira nos Estados Unidos entre 1999 e 2004.
Trump anunciou a tarifação sobre o Brasil no dia 9 de julho em uma carta enviada a Lula e divulgada nas redes sociais. No texto, o republicano usou um tom político contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e atrelou o aumento da tarifa às decisões da Corte.
Ele também associou a medida à investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de participar do roteiro da trama golpista. Para o chefe da Casa Branca, o julgamento contra Bolsonaro é uma “caça às bruxas” e tratou o caso como “perseguição”.
Enquanto bolsonaristas endossam o discurso de que o tarifaço é uma troca pela anistia de Bolsonaro, o campo diplomático trabalha com outra motivação para a taxação: o Brics. A cúpula se reuniu no começo do mês e criticou medidas protecionistas como as adotadas por Trump. O bloco ainda mandou recados contra às guerras de Israel e Irã, na qual os EUA estiveram envolvidos, mas evitou citar os países que participaram do conflito.
Desde o anúncio, o Palácio do Planalto tem tentado intensificar as negociações para o recuo de Trump e Lula nomeou seu vice, Geraldo Alckmin, para tomar a frente do tema. Alckmin convocou empresários do setor da indústria e agronegócio para encontrar soluções e tentar intermediar uma pressão sobre o governo norte-americano por meio do empresariado estadunidense.
Caso a ideia não surta efeito, Lula deve aplicar a lei de reciprocidade aprovada pelo Congresso Nacional em abril deste ano. O projeto era uma resposta ao protecionismo europeu sobre à carne brasileira, mas avançou contra a tarifa de 10% já aplicada por Trump na época.
Além da taxação de produtos vindos dos EUA, o Planalto ainda discute a possibilidade de quebrar patentes de medicamentos americanos. Para Rubens Barbosa, a medida poderá alavancar a crise diplomática entre os dois países e provocar uma “confusão” maior do que já está.
“Eu acho que não tinha que fazer retaliação nenhuma. Eu acho que tinha que negociar ou a extensão do prazo, ou a redução de 50% para 10% novamente, ou a eliminação de tarifas sobre produtos americanos, a restrição não tarifária eliminar”, afirmou.
“Agora, se você colocar retaliação com 30%, 40%, 50%, ou se você retaliar com patentes e propriedade intelectual, vai dar mais confusão”, concluiu o diplomata.