As autoridades da África Ocidental debateram, nesta segunda-feira (7), a situação do Níger, onde a via diplomática para restabelecer o presidente deposto, Mohamed Bazoum, “segue aberta”, segundo os Estados Unidos.

“As autoridades da Cedeao abordarão a situação política e os recentes desenvolvimentos no Níger” em uma cúpula em Abuja, capital da Nigéria, informou a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao).

Os militares que tomaram o poder no Níger em 26 de julho ignoraram o ultimato da Cedeao para restaurar a democracia até a meia-noite de domingo, sob a ameaça de uma possível intervenção militar.

No entanto, segundo uma fonte próxima ao bloco, por enquanto não está prevista uma operação deste tipo e novas rotas de diálogo parecem surgir.

O primeiro-ministro do presidente deposto, Ouhoumoudou Mahamadou, indicou que “a junta pediu à delegação da Cedeao que voltasse”, o que poderia acontecer “hoje [segunda-feira] ou amanhã”.

Uma missão da Cedeao visitou Niamei na última quinta-feira para negociar uma saída da crise, mas deixou o Níger poucas horas depois sem conseguir conversar com o general Abdourahamane Tiani, chefe dos militares no poder, nem com Bazoum.

Nesta segunda-feira, os Estados Unidos estimaram que “a janela de oportunidade definitivamente segue aberta”.

“Acreditamos que a junta deve afastar-se e deixar que o presidente Bazoum retome suas funções”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

O representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental e o Sahel, Leonardo Santos Simão, encontra-se atualmente em Abuja, onde dialoga “com as partes regionais envolvidas”, indicou a entidade.

– Novas questões diplomáticas –

O golpe de Estado foi condenado por outros países africanos, assim como por França e Estados Unidos, que têm no Níger 1.500 e 1.100 soldados, respectivamente, para lutar contra as organizações jihadistas que operam na região.

No entanto, vários países africanos descartaram uma intervenção militar.

Mali e Burkina Faso, suspensos da Cedeao devido aos golpes de Estado que também levaram militares ao poder em 2021 e 2022, respectivamente, manifestaram, por outro lado, seu apoio ao governo que depôs Bazoum no Níger.

Esses dois países enviaram uma delegação oficial conjunta a Niamei para mostrar sua “solidariedade ao povo do Níger”, anunciou o Exército malinense.

O chefe da diplomacia do Mali, Abdoulaye Diop, afirmou nesta segunda-feira que uma intervenção militar seria “uma catástrofe”.

Os senadores da Nigéria, peso-pesado da Cedeao, pediram “o fortalecimento da opção política e diplomática” para encontrar uma solução para o conflito.

A Argélia, que não é membro da Cedeao, mas compartilha cerca de 1.000 km de fronteira com o Níger, também expressou suas ressalvas.

Os alertas contra uma ação militar também vieram de países ocidentais.

A Itália pediu à Cedeao a prorrogação do ultimato e uma tentativa para encontrar uma solução diplomática, assim como a Alemanha, que considera que os esforços diplomáticos estão apenas começando.

– Fechamento de espaço aéreo –

Pouco antes do ultimato da Cedeao expirar à meia-noite, o Exército nigerino anunciou o fechamento do espaço aéreo “até novo aviso”, perante a “ameaça de intervenção” estrangeira.

Qualquer violação dessa medida dará lugar a “uma catástrofe energética e imediata” e qualquer Estado envolvido em uma intervenção será considerado beligerante”, ameaçou o Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), órgão dos militares no poder no Níger.

A calmaria reinava em Niamei na manhã desta segunda-feira, após uma concentração na véspera de cerca de 30.000 apoiadores dos militares no maior estádio do país.

Com bandeiras do Níger, da vizinha Burkina Faso e da Rússia, a multidão vaiava a França e a Cedeao e aclamava os membros do CNSP que participaram do ato.

A França, ex-potência colonial, suspendeu no domingo “até novo aviso” todas suas “ações de ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamentário” em Burkina Faso.

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