O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, é o mais vocal entre os profissionais das relações exteriores quando o assunto é a preocupação com o caos do governo Bolsonaro. Wanming usa o Twitter para mandar indiretas ou até criticar abertamente a presidência. Quando Roberto Jefferson foi preso por seus constantes ataques à democracia e ao próprio embaixador, ele escreveu em um tom enigmático: “Lindo dia”. Após comentários negativos sobre a China feitos pelo deputado Eduardo Bolsonaro, usou o perfil da embaixada para escrever: “quem insiste em atacar e humilhar o povo chinês acaba sempre dando um tiro no próprio pé”.

PRESSÃO Assessor de segurança de Biden, Jake Sullivan, veio ao Brasil para discutir a situação da democracia (Crédito:Evan Vucci)

Apesar de não falarem em público, outras representações estrangeiras começam a sentir o medo do que se aproxima. A ameaça de golpe militar por parte do governo ficou mais real depois que o presidente colocou tanques nas ruas de Brasília, fora o que o mandatário arquiteta para o feriado de Sete de Setembro. Em um grupo de whatsapp de diplomatas brasileiros ao qual a ISTOÉ teve acesso, os profissionais do Itamaraty relatam exasperação e vergonha nas suas relações com os colegas de outros países. O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Ricupero, diz que o comportamento do presidente “transmite uma imagem de precariedade no País”.

O clima de “o Brasil não ter amigos” relatado pelos diplomatas é real. Os antigos parceiros de Bolsonaro, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, não estão mais no poder. O presidente Joe Biden mandou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, ao Brasil para discutir a “democracia” como tema principal. “Ressaltamos a importância de não desacreditar o processo eleitoral porque não há indícios de fraude nas eleições anteriores”, declarou a Casa Branca após a visita de Sullivan. Preocupados com o assunto, os EUA convocaram uma “Cúpula para a Democracia”, que acontecerá em dezembro. A pauta será a defesa contra o autoritarismo, o combate à corrupção e o respeito aos direitos humanos. O Brasil de Bolsonaro, que não tem familiaridade com os temas, ainda não foi convidado. “Acredito que os americanos estão esperando os acontecimentos das próximas semanas para decidir o que será feito”, diz Ricupero.