A menos de uma semana no cargo de ministro das Relações Exteriores, o novo chanceler José Serra promoveu uma guinada de 180 graus na diplomacia brasileira. Logo na largada, divulgou uma oportuna nota de repúdio aos chamados países bolivarianos, críticos do processo indiscutivelmente constitucional que afastou Dilma Rousseff do poder, e indicou que deverá ter em Maurício Macri, presidente da Argentina, um importante aliado no Mercosul. Uma lufada de lucidez jamais vista no setor, nos últimos treze anos de lulopetismo. Entoado na quarta-feira 18, o discurso de posse de Serra soou como música aos ouvidos de boa parte do corpo diplomático, dos setores produtivos e de todos aqueles que não suportavam mais ver a política externa brasileira a reboque dos interesses de um partido: “A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior”, afirmou o novo chanceler.

O que se espera é que Serra de fato inverta a posição do Brasil no mapa mundi e livre o País da submissão a tratados quase que exclusivamente em bloco ou bilaterais com países subdesenvolvidos, no que ficou conhecido como relação Sul-Sul, um ideário petista que fez o Brasil regredir em seu posicionamento mundial. Além da relação prioritária com a Argentina, primeiro País a ser visitado pelo novo ministro, a ideia é estreitar os laços com a União Europeia, Estados Unidos, Japão, nações árabes e emergentes como a China e a Índia.

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Ao definir de imediato as principais diretrizes de sua gestão (ver quadro), Serra reforçou que não vai tolerar que países onde o respeito à democracia é duvidável tentem impingir sobre o Brasil a tese de que há um golpe de Estado em curso. Por isso, o Itamaraty reagiu com rapidez e contundência, ao tomar conhecimento de manifestações nesse sentido de nações como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua. O Itamaraty também publicou um comunicado para rebater as declarações do secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, que ameaçou excluir o Brasil do Mercosul, caso o Congresso prosseguisse com o impeachment de Dilma Rousseff. A resposta do governo brasileiro foi à altura: “Os argumentos apresentados fazem interpretações falsas sobre a Constituição e as leis brasileiras”. Serra participou pessoalmente da redação das duas notas. Indagado pela ISTOÉ qual será a postura do governo caso as nações bolivarianas insistam nesse discurso, o chanceler foi direto: “Eventuais novas manifestações serão consideradas caso a caso. O diálogo com esses países permanece aberto e as relações diplomáticas seguem normais. Até agora não há razão para pensar num cenário nos quais nossos acordos comerciais estejam em risco. Muito pelo contrário”, afirmou.

Para colocar a casa em ordem, o chefe da chancelaria pediu ao governo um socorro de R$ 800 milhões. Como nem só de atos técnicos e burocráticos vivem a administração pública, Serra tratou de dedicar um afago ao ministro do Planejamento, Romero Jucá, presente em sua cerimônia de posse, ao escolher o detentor da chave do cofre da União para citar nominalmente em cumprimento aos demais ministros. “Creio que os outros ministros entenderão por que escolhi o ministro Jucá para representá-los nesta saudação.” A plateia riu e Jucá adorou.