O primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou nesta terça-feira (16)a fusão dos Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento Internacional, levantando temores de que a generosa ajuda externa britânica seja politizada, o que poderia afetar os países mais necessitados.

O Reino Unido é o único país do G7 a dedicar 0,7% do seu PIB ao auxílio ao desenvolvimento, um nível que Johnson se comprometeu a manter.

No entanto, após essa mudança, “o ministro das Relações Exteriores terá o poder de decidir quais países receberão ou deixarão de receber ajuda britânica”, disse o primeiro-ministro à Câmara dos Comuns.

O líder conservador justificou a medida como uma questão de coerência na ação estrangeira britânica: o financiamento deve agora considerar as ameaças geopolíticas representadas pela Rússia ou a ascensão da China, por exemplo.

“Estamos dando dez vezes mais ajuda à Tanzânia do que aos seis países dos Balcãs Ocidentais que estão extremamente expostos à interferência russa”, argumentou Johnson.

O novo ministro das Relações Exteriores, da Commonwealth e do Desenvolvimento dará “mais peso” à diplomacia britânica assim que ela se tornar operacional em setembro, disse ele.

Mas a decisão foi recebida como um balde de água fria por inúmeras ONGs britânicas.

“É um retrocesso que pode custar milhões de vidas”, disse Danny Sriskandarajah, presidente da Oxfam.

“O Reino Unido ficou conhecido nas últimas duas décadas como líder mundial em desenvolvimento, em parte porque temos um departamento especializado que teve uma abordagem precisa para acabar com a pobreza extrema”, afirmou.

Com a experiência em outros países “onde o departamento de desenvolvimento foi absorvido por um departamento de política externa”, sabemos que “o impacto na redução da pobreza extrema foi reduzido”, acrescentou.

Martin Drewry, diretor da Health Poverty Action, denunciou que esta decisão “aumentará ainda mais a desigualdade ao utilizar o auxílio e, portanto, a vida das pessoas em todo o mundo, como moeda de troca a serviço de interesses comerciais ou políticos “.

A fusão também foi criticada por três ex-primeiros-ministros britânicos: Tony Blair, Gordon Brown e David Cameron, para quem a decisão foi um “erro”.