Diplomacia americana entra na controvérsia envolvendo Waters

Diplomacia americana entra na controvérsia envolvendo Waters

"EmDepartamento de Estado dos EUA afirma que show do músico em Berlim teve imagens ofensivas ao povo judeu e minimizou o Holocausto, endossando críticas da enviada da Casa Branca para o combate ao antissemitismo.O governo dos Estados Unidos somou-se aos que acusam o cantor Roger Waters, um dos fundadores do Pink Floyd, de antissemitismo por performances realizadas em um show em Berlim em 17 de maio.

O ponto mais criticado da apresentação foi um momento no qual o músico vestiu um uniforme de estilo nazista para representar um personagem, no que ele chamou de ato contra o fascismo.

A polícia de Berlim abriu no final de maio uma investigação contra Floyd por suspeita de "incitação ao ódio público". Símbolos, bandeiras e uniformes nazistas são proibidos na Alemanha, mas há exceções para a exibição em contextos educacionais e artísticos.

Nesta terça-feira (06/06), o Departamento de Estado dos EUA se manifestou sobre o tema, e afirmou que o show "continha imagens profundamente ofensivas ao povo judeu e minimizou o Holocausto".

"O artista em questão tem um longo histórico de uso de temas antissemitas para denegrir o povo judeu", disse o Departamento de Estado em resposta por escrito a perguntas.

No show em Berlim, Waters também pareceu traçar paralelos entre as mortes de várias pessoas, exibindo seus nomes em um telão, incluindo os de Anne Frank, a adolescente judia morta em um campo de concentração nazista, e Shireen Abu Akleh, a jornalista palestino-americana morta a tiros no ano passado enquanto cobria uma operação policial israelense.

A afirmação do Departamento de Estado foi feita em apoio à sua enviada para o combate ao antissemitismo, Deborah Lipstadt, que condenou a "desprezível distorção do Holocausto" feita pelo músico.

O comentário de Lipstadt foi, por sua vez, foi uma resposta à sua contraparte da União Europeia, Katharina von Schnurbein, que disse estar "enojada com a obsessão de Roger Waters em menosprezar e trivializar a Shoah", usando o termo hebraico para o Holocausto.

Décadas antes da atual controvérsia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, era tão fã do Pink Floyd que citou a música Another Brick in the Wall em seu anuário do ensino médio.

Waters diz ser alvo de ataques de má-fé

O músico britânico de 79 anos publicou em maio uma nota em suas redes sociais na qual afirma que sua apresentação em Berlim atraiu "ataques de má-fé daqueles que querem sujar minha reputação e me silenciar porque discordam de minhas visões políticas e princípios morais".

Waters afirmou que os elementos de seu show sendo questionados são "claramente uma manifestação em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas", e tentativas de representá-los como algo diverso disso são "falsas e motivadas politicamente".

Ele mencionou que a representação de um demagogo fascista desequilibrado faz parte de seus shows desde o álbum The Wall, de 1980, e que ele passou sua vida inteira se manifestando contra o autoritarismo e a opressão. Waters já havia usado a iconografia em shows anteriores na Alemanha sem problemas legais nos anos 2010.

"Quando eu era uma criança após a guerra, o nome de Anne Frank era com frequência mencionado em nossa casa, ela tornou-se um lembrete permanente do que acontece quando o fascismo não é combatido. Meus pais lutaram contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, e meu pai pagou o preço final", escreveu Waters.

Waters é um conhecido ativista em defesa do povo palestino e já foi acusado de ter visões antissemitas. Ele já usou em alguns de seus shows um porco inflável marcado com a Estrela de Davi.

O cantor também é membro do Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções, liderado por palestinos, que tem como alvo Israel por causa de sua ocupação de territórios onde os palestinos buscam constituir um Estado.

bl (AFP, AP)