31/10/2022 - 0:11
Por Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO (Reuters) – Depois de ser eleito presidente do Brasil pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva ainda mantém mistério sobre quem fará parte da sua equipe de governo, mas nomes de confiança como Alexandre Padilha, Fernando Haddad, Wellington Dias, e Flavio Dino, além de aliados mais recentes, mas essenciais para a campanha, como Simone Tebet e Marina Silva, têm lugares praticamente assegurados no primeiro escalão.
Possivelmente estará dentro desses nomes do PT a resposta para a pergunta mais constante a Lula desde o início da sua campanha: quem será seu ministro da Fazenda. Mas, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters, esse é um assunto que Lula não trata nem com os mas próximos.
“Ele interditou esse debate, e não deixa de ter razão. Em uma eleição apertada qualquer coisa que antecipe soa muito mal”, disse um petista muito próximo ao presidente eleito.
Os nomes que circulam para o cargo passam pelo deputado federal Alexandre Padilha, o senador eleito Wellington Dias, ex-governado do Piauí, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad –derrotado no domingo na eleição para o governo do Estado– e o ex-ministro da Fazenda de Temer Henrique Meirelles, que se reaproximou recentemente de Lula.
No entanto, garantem as fontes, as apostas são feitas apenas a partir de movimentos recentes da campanha, sem qualquer indicação clara de Lula.
“Nada mudou no último mês. Não tem um nome mais cotado nesse momento, tudo parte de especulação porque quem decide continua sem falar nada”, diz uma fonte da área econômica da campanha.
O nome de Alexandre Padilha vem aparecendo mais recentemente porque o deputado tem sido presença constante em jantares e almoços com empresários e representantes do mercado financeiro para falar das propostas de Lula. Esse mesmo papel já foi feito algumas vezes por Wellington Dias.
De acordo com uma fonte, no entanto, Padilha seria mais cotado no momento para a Casa Civil.
Um dos nomes mais temidos pelo mercado financeiro, o coordenador do programa de governo de Lula, Aloizio Mercadante, deve estar no ministério, mas não na Fazenda, diz uma segunda fonte.
“Não vai ser um ministério central como Fazenda ou Casa Civil. Eu apostaria talvez no Planejamento”, disse a fonte.
Para além da equipe econômica, alguns nomes são dados como certos, mas apenas um já foi citado pelo próprio Lula: Flávio Dino, ex-governador do Maranhão, senador eleito. Hoje um dos homens de confiança do petista, possivelmente será o ministro da Justiça.
Já a senadora Simone Tebet, mesmo sem ter sido nominada, é figura garantida no primeiro escalão. A emedebista entrou de cabeça na campanha do petista no segundo turno, conquistou espaço e o coração de Lula.
A aposta é que a senadora passe a ocupar o Ministério da Agricultura, já que vem de um Estado, o Mato Grosso do Sul, com fortes raízes no agronegócio. No entanto, ela mesma já deu a entender mais de uma vez de que gostaria de ocupar a Educação.
“A primeira palavra que falei a Lula quando nos encontramos foi educação”, disse recentemente em um almoço com empresários apoiadores de Lula antes de uma caminhada pela Faria Lima.
O desejo da senadora esbarra em um comportamento tradicional do PT, que costuma reservar para si áreas como Educação, Saúde, Desenvolvimento Social, Direitos Humanos.
Também a deputada federal eleita Marina Silva (Rede) pode deixar a Câmara dos Deputados para assumir um cargo que deve ainda ser criado, o da Autoridade Nacional contra Mudanças Climáticas, que trabalharia em todas as áreas do governo para implementar as mudanças para economia verde que Lula quer encabeçar.
As fontes ouvidas pela Reuters concordam que Marina, ministra do Meio Ambiente nos primeiros cinco anos do governo Lula, não voltaria ao governo para o mesmo cargo, mas admitem que possivelmente aceitaria ocupar a posição que ela mesma defende que exista –em entrevista, ela deixou essa porta aberta.
Outro que não recusaria uma eventual convocatória de Lula para voltar ao governo é o ex-chanceler Celso Amorim, que ocupou o Itamaraty durante dois primeiros mandatos de Lula e segue sendo seu principal conselheiro de relações internacionais.
“Não tenho nenhuma ambição em relação a isso, mas não posso recusar uma convocação do presidente Lula”, disse o diplomata à Reuters há duas semanas. No núcleo de campanha de Lula, a avaliação é de que, se Amorim quiser, ele voltará ao ministério.
Outros nomes que, de acordo com as fontes, podem compor o novo governo são o do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos nomes-chave nas articulações que compuseram a larga rede de apoios de Lula e o senador Jaques Wagner.
A lista, no entanto, não incluiu ainda a necessária negociação com os partidos que apoiaram Lula desde o primeiro turno e que devem ser contemplados de alguma forma –ao todo, o petista reuniu 10 siglas em torno de sua candidatura.
“Muita gente que acha que vai ser ministro não será. Outros que ninguém pensa devem aparecer. Lula tem dito que quer renovar bastante”, diz uma das fontes.
(Reporting by Lisandra Paraguassu. Edição de Flávia Marreiro)