A breve passagem de Fernando Diniz pela seleção brasileira teve mais derrotas que vitórias, recordes negativos, críticas e a interrupção de seu trabalho por decisão do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, no momento em que o técnico acenava com a tão esperava reformulação – ainda que tímida – da equipe nacional, que não ganha uma Copa do Mundo há mais de duas décadas e vê as cobranças aumentarem.

Diniz dirigiu a seleção em apenas seis partidas, todas pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo dos EUA, México e Canadá, que será disputada em 2026. Foram mais reveses que triunfos. Com ele, o Brasil perdeu para Uruguai, Colômbia e Argentina, ganhou de Bolívia e Peru e empatou com a Venezuela.

O início parecia promissor. Na estreia do comandante, o Brasil fez 5 a 1 na frágil Bolívia. O resultado era esperado, mas a forma como o time jogou empolgou os torcedores. Ocorreu que aquele futebol não mais foi visto sob o comando do profissional, tão elogiado pela sua ousadia. Mesmo na segunda vitória, sobre o Peru, por 1 a 0, não houve inspiração.

Depois, o Brasil não mais venceu com o treinador interino, que, nos planos de Ednaldo Rodrigues, passaria o bastão para Carlo Ancelotti. Tudo, porém, deu errado para o presidente da CBF, já que o italiano renovou seu contrato com o Real Madrid e o dirigente se apressa, agora, em trazer um técnico definitivo para a seleção.

Em Montevidéu, a seleção foi dominada pelo Uruguai e conheceu seu primeiro revés na curta era Diniz. Levou 2 a 0 dos donos da casa e viu Neymar se machucar gravemente. Um mês depois, no jogo seguinte, a atuação foi ainda pior diante da Colômbia, que, não tivesse perdido um caminhão de gols, teria goleado os brasileiros. Os colombianos venceram por 2 a 1 e ampliaram a pressão na seleção brasileira, que enfrentaria, na sequência, a arquirrival Argentina.

Diniz não sabia, mas o duelo com a atual campeã mundial seria o seu último à frente do Brasil. Da área técnica, ele viu uma equipe esforçada, mas pouco criativa e novamente incapaz de demonstrar competência nas bolas aéreas defensivas. Foi assim, pelo alto, que a Argentina ganhou o jogo, marcado por episódios de violência nas arquibancadas do Maracanã.

Diniz teve um dos piores desempenhos no comando da seleção brasileira. Ele deixa o cargo depois de seis meses com aproveitamento de apenas 38,8%. Seu foco passa a ser exclusivamente o Fluminense. Parte do elenco, composta em sua maioria por jogadores que não estiveram na disputa do Mundial de Clubes, já se reapresentou para a pré-temporada no CT Carlos Castilho.

O técnico se irritou com a interrupção de seu trabalho porque Ednaldo não cumpriu o combinado. Ocorre que agora de volta ao cargo máximo da CBF por decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF, o dirigente tem pressa para eleger uma comissão técnica definitiva. Dorival Júnior é o seu preferido.

RECORDES NEGATIVOS

O breve período de Diniz na seleção foi marcado por ineditismos. O Brasil amargou marcas inéditas negativas nesses últimos meses. A lista é grande: três derrotas seguidas nas Eliminatórias; derrota para o Uruguai após 22 anos; primeiro revés por dois gols de diferença nas Eliminatórias desde 2015; primeira derrota sofrida para a Colômbia na histórias das Eliminatórias; primeira vez que soma três derrotas seguidas nas Eliminatórias;

pior campanha da seleção na história das Eliminatórias após seis rodadas (sete pontos); mais derrotas em um único ano desde 2001; fim da invencibilidade de 58 jogos como mandante nas Eliminatórias.

CONVOCAÇÕES

Diniz foi dispensado por Ednaldo quando começava a renovar o plantel brasileiro. Nas duas primeiras convocações, ele manteve a base deixava por Tite, com nomes até contestados, como o atacante Matheus Cunha. As duas primeiras relações foram quase idênticas. “A base… Eu não pensei muito nisso. Embora tenha mantido uma base, a gente tenta sempre convocar os melhores jogadores possíveis”, disse o treinador em setembro, quando fez sua segunda convocação.

Líderes do elenco, como Neymar e Casemiro, foram mantidos no grupo, mas os dois se machucaram e não integraram a terceira lista.

Foi nessa terceira convocação, enfim, que o técnico resolveu fazer mudanças e trazer novidades à criticada e combalida seleção. A principal delas foi a presença de Endrick, jovem fenômeno do Palmeiras que foi o personagem central do 12º título brasileiro do time alviverde.

Mas Diniz insistiu em atletas questionados e sofreu com problemas na zaga e laterais. Seu terceiro chamado teve apenas um lateral-direito, Emerson Royal, talvez o mais criticado dos atletas selecionados. No total, o técnico chamou perto de 40 atletas.