20/04/2017 - 19:00
As delações da Odebrecht apontam que Dilma Rousseff sabia que sua campanha foi bancada com dinheiro de propina e paga no caixa dois. Aparentemente, isso não a perturbava, afinal, era assim que o sistema político-eleitoral “funcionava”. Mas o episódio que a deixou, de fato, transtornada foi o de que seu próprio assessor tido como um filho, Anderson Dornelles, recebia mesada de R$ 50 mil da empreiteira, sabe-se lá por quê. Ao analisar os vídeos, ficou no entorno da petista a dúvida: além de fazer chegar demandas da Odebrecht como e-mails e telefonemas, teria Anderson, que frequentava o núcleo político e familiar de Dilma, vendido para empresas informações presidenciais privilegiadas? O assessor nega o recebimento das mesadas. Dilma tem dúvidas.
Atirados…
A nota oficial de Dilma após a divulgação dos depoimentos de João Santana e Mônica Moura chocou até ex-funcionários do Planalto. A petista diz que “nunca autorizou arrecadação de recursos por meio de caixa dois”. E que “todos que participaram nas instâncias de coordenação das duas campanhas sempre tiveram total ciência disso”.
…aos leões
A ex-presidente simplesmente lava as mãos – para tentar livrar a biografia e a própria pele – e atira seus ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega aos leões. Segundo delações da Odebrecht, eles eram os arrecadadores extra-oficiais. Esse movimento foi interpretado como uma vacina para a eventual delação de Palocci no horizonte.
Rápidas
* Após a chocante derrota do governo na primeira votação sobre a urgência de tramitação da reforma trabalhista, deputados rapidamente começaram a ironizar a incoerência da base aliada e elegeram os três partidos vencedores da medalha “traidores da noite”.
* A de bronze vai para o PPS, que possui dois Ministérios (Defesa e Cultura) e contribuiu com apenas três votos favoráveis ao governo – média de 1,5 voto por Pasta. A de prata vai para o PV, que comanda o Meio Ambiente na Esplanada e entregou um favorável e dois contrários – meio voto por Pasta.
* A de ouro, para o PTB. Dos nove votantes, um deles foi contra a urgência. O detalhe é que o partido comanda nada menos que o Ministério do Trabalho.
* O PMDB, que teve oito votos contrariando os interesses do presidente da República, que é cacique da legenda, ficou de fora da brincadeira por ser considerado hors-concours.
Vítima
Ainda sobre Dilma, a ex-presidente terá muita história para explicar. Como por exemplo os pronunciamentos que o ex-marqueteiro João Santana filmava vez ou outra sem custos. Ou o cabeleireiro paulista cujos pagamentos não são explicados. Mas a ex-presidente resolveu adotar no caso João Santana o mesmo tipo de reposta do escândalo de Pasadena. Algo como “se teve alguma coisa errada, foram eles, não eu “.
Retrato falado
A tropa de choque do ex-presidente Lula está afiada. O deputado Afonso Florence (PT-BA), ex-ministro de Dilma, criticou Sergio Moro. “Como é que um juiz diz para um só réu que ele tem de estar em todas as audiências de testemunhas
de defesa? É um direito da defesa de Lula arrolar quem ele quiser.” E completou: “Esse é o mesmo juiz que fez gravação ilegal e divulgou”. O dia 3 de maio, quando Lula e Moro estarão cara a cara em Curitiba, promete.
Cerco fechado
Investigadores da Operação Janus estudam complementar a denúncia contra Lula. Ele é acusado de receber propina por meio do sobrinho Taiguara Rodrigues e de traficar influência no BNDES e em Angola. Representantes da empreiteira conversaram com os investigadores, na semana passada, em Brasília, para repassar outras informações em uma das mais documentadas denúncias contra o ex-presidente e contra Marcelo Odebrecht. Se isso acontecer, o caminho estará aberto para os executivos da empreiteira conseguirem uma redução de pena na 10ª Vara Federal de Brasília. Lula e seu sobrinho pagarão, então, o pato sozinhos na sentença a ser proferida pelo juiz Vallisney Oliveira.
Toma lá dá cá
Efraim filho (PB), líder do DEM na Câmara
Qual lição fica após a primeira derrota da urgência da reforma trabalhista para o governo?
O cálculo do presidente Maia, sem dúvida, foi errado. Mas acho que os líderes é que apresentaram os números incorretos e o induziram ao erro. Os líderes venderam um cenário de segurança, mas não conseguiram entregar. O DEM contribuiu com todos os votos. Mas o fato é que agora o governo deverá rever sua base aliada.
O que acha que deveria ser feito?
Em vez de alardear que possui o apoio de 411 deputados e tentar abraçar o mundo, o governo deveria centrar o foco em manter fiéis os 320, 350 que são realmente necessários. Ou seja, optar por uma base um pouco menor, porém mais coesa.
Mas como “fidelizá-los” em tempos de orçamento impositivo?
O parlamentar não depender mais da vontade do governo de liberar emendas do orçamento, de fato, diminui muito
a barganha, o que é positivo. Agora, é partir mesmo para o trabalho de convencimento.
Meirelles…
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está tendo uma série de encontros com investidores nos Estados Unidos nessa semana. A mensagem que foi apresentar é composta de, basicamente, três boas notícias e uma ruim. Foi dizer que até outubro a taxa básica de juros (Selic) deverá chegar a 9% ou menos – hoje é 11,25% ao ano.
…vai à caça
Prometeu que em dezembro a inflação ficará abaixo do centro da meta, que é 4,5%. Por fim, está dando sua palavra que o crescimento do PIB no último trimestre de 2017 deverá chegar aos 2%. A má notícia é que a taxa de desemprego não deve cair, mantendo-se nos 13%. Sobre a reforma da Previdência, está tentando explicar os recuos do governo.
É só robalo
Em meio a um festival de delações premiadas, surge um sinal dos tempos em Brasília: restaurantes da capital federal estão há mais de uma semana com grave desabastecimento de linguado, aquele peixe achatado. Para substituí-lo, os maîtres estão sugerindo o robalo. É sério, aconteceu no Tejo, da Asa Sul.