31/08/2016 - 16:30
Dilma Rousseff disse que resistiria até o fim e assim o fez, apesar de ter o destino traçado e selado ao ser destituída nesta quarta-feira da Presidência.
Apesar do impeachment, a ex-guerrilheira de 68 anos foi beneficiada por uma segunda votação no Senado a impediu que ficasse inabilitada para exercer cargos públicos.
“Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal”, declarou a agora ex-presidente em sua primeira reação ao impeachment oficializado.
“Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar”, acrescentou.
Seu retrato passará agora a fazer parte de forma precoce da galeria de ex-presidentes do Palácio do Planalto, ao lado do de Lula, seu antecessor e mentor político.
“Não esperem de mim o silêncio dos covardes”, lançou Dilma na segunda-feira, ante os senadores que a julgaram e condenaram, com o mesmo tom desafiador com que enfrentou um tribunal militar há 46 anos, quando foi condenada como guerrilheira.
“Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”, acrescentou nesta quarta.
“Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Nós voltaremos”, enfatizou.
“Papisa da subversão”
Acusada de maquiar as cifras públicas para esconder o caos econômico em que o Brasil se encontra, Dilma disse até o final que era inocente.
Mas a decisão estava nas mãos do Senado, e seu erro fatal foi ter destruído todas as pontes que Lula construiu com o Legislativo.
Dilma mandava, não negociava. Seus simpatizantes afirmam que essa atitude é determinação; seus críticos, arrogância.
De qualquer forma, o preço foi alto.
Desde o início do processo, Dilma se mostrou inquebrantável, tanto em público quanto na intimidade.
“Eu a vejo muito forte. O impeachment a fez crescer como política e como mulher. Ela se fortaleceu”, afirmou à AFP uma fonte ligada à Dilma.
Não chegou a chorar nenhuma vez desde que assumiu o poder, mas o fez ao receber o relatório final da Comissão da Verdade, que confirmou os 434 mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985).
“Papisa da subversão”, foram as palavras do juiz que a condenou à prisão por pertencer a um grupo armado, responsável por assassinatos e roubos.
Apesar de sua participação na luta armada estar envolta em mistério, a maioria dos relatórios afirmam que não esteve envolvida diretamente em operações de comando ou assassinatos.
“Pena de morte”
Dilma deixa a presidência com uma aprovação popular em seu mínimo histórico e com um governo abalado por uma série de escândalos de corrupção, como o Petrolão, no qual foram arrolados vários políticos de seu partido e o próprio Lula.
Longe estão os dias, há seis anos, em que recebeu a faixa presidencial com grande popularidade herdada pelo carisma de seu padrinho político.
Ante a iminência de perder o poder para seu companheiro de chapa, Michel Temer, Dilma nunca hesitou em afirmar que tudo não passou de um golpe parlamentar, liderado por seu vice e pior inimigo.
“O impeachment é a eleição indireta de um governo usurpador”, enfatizou, em seu último discurso como presidente.
Ela agora volta para Porto Alegre, onde vivem sua filha e seus netos, depois de meses “desterrada” na residência oficial da Alvorada, onde acabou mostrando um rosto mais humano, diferente da tecnocrata arrogante.
Mais presente nas redes sociais, que antes usava apenas em época de campanha, Dilma se uniu a seus seguidores e se mostrou mais à vontade nos atos políticos, algo que nunca foi seu forte.
Essa força foi vista em seu determinado discurso uma vez afastada oficialmente da presidência.
“Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”, prometeu, ao final do processo de votação, dirigindo-se aos seus eleitores e movimentos sociais e sindicais.