Na reta final para a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice Michel Temer (PMDB) partiram para o confronto direto nesse sábado, 16. Além de atuar nos bastidores para somar votos de acordo com os interesses de cada um, ambos resolveram se atacar publicamente para animar aliados e mostrar força neste domingo, 17, quando o destino dos dois será definido.

Dilma fez o primeiro ato. Divulgou, no fim da noite desse sábado na internet um vídeo em que reafirma ser alvo de “um golpe”, cujo principal objetivo é retirá-la do governo. Segundo ela, o objetivo seria o fim dos programas sociais. “Querem revogar direitos e cortar programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida”, disse a presidente na gravação.

Após a divulgação, Temer usou sua conta numa rede social para contra-atacar. Em mensagem publicada no Twitter por volta das 7h30 da manhã de ontem, ele afirmou que não fará alterações em programas sociais.

“Leio hoje nos jornais as acusações de que acabarei com o Bolsa Família. Falso. Mentira rasteira. Manterei todos os programas sociais”, escreveu.

Ao contrário do que planejara inicialmente, o vice voou ontem de São Paulo para Brasília a fim de acompanhar de perto as negociações finais para a conquista dos 342 votos necessários para a aprovação do impeachment. O vice escalou aliados para desqualificar uma suposta reação do Palácio do Planalto para reverter a tendência em favor do afastamento de Dilma.

Integrante do núcleo duro de Temer, o ex-ministro Eliseu Padilha classificou como “piada” a informação de que o governo revertera votos do PP, partido cujo presidente, senador Ciro Nogueira (PI), decidira fechar questão em favor do impeachment.

Também numa conta de rede social, Padilha ressaltou o pedido de demissão feito pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, do Ministério das Cidades. Conforme o Estado apurou com um deputado do PSD, a tendência mais forte no partido é votar a favor do afastamento da presidente.

Após participar de uma reunião com Temer no Palácio do Jaburu (residência oficial do vice), o presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), afirmou que “até amanhã (hoje) tudo será especulação”. “Vamos acompanhar, esclarecer as dúvidas e esvaziar qualquer tipo de boato, o governo tenta fazer um ataque especulativo.”

Jucá também rebateu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O que ele (Lula) chama de atalho a gente chama de Constituição. Estamos tranquilos. É natural que o governo não jogue a toalha, mas tenho certeza que a vontade da maioria da população vai prevalecer.”

O deputado e ex-ministro da Aviação Civil Mauro Lopes também esteve na tarde de ontem com Temer no Jaburu. Segundo relatos, ele afirmou ao vice que pretende votar a favor do impeachment da presidente. “O Mauro Lopes o governo contava com certo. Ele veio aqui para dizer que, em que pese a pressão que estava sofrendo, que o Michel poderia contar que ele ia votar com o partido, pelo impeachment. De certo, ele vai apresentar junto a carta de demissão”, afirmou Padilha. O ex-ministro não foi localizado nesse sábado, 17, pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Repercussão

Deputados do PT que participaram nesse sábado da sessão da sessão da Câmara reagiram à declaração de Temer. Em discurso no plenário, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou que ele falou como presidente, antes mesmo da votação sobre a admissibilidade do processo. “Temer, o Breve, anunciou medidas como se presidente da República fosse”, afirmou Pimenta. O deputado se disse satisfeito com o clima de “vira, virou” que fez o governo garantir novos votos contra o impeachment, mas ressalvou que “a oposição nunca teve os votos necessários para aprovar sua proposta de golpe.” COLABOROU ERICH DECAT

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.