NICÓSIA, 3 DEZ (ANSA) – O papa Francisco se reuniu nesta sexta-feira (3) com autoridades ortodoxas do Chipre e afirmou que as diferenças com a Igreja Católica não são “irreconciliáveis”.   

Em seu segundo dia de visita ao país, o pontífice se encontrou de forma privada com o arcebispo ortodoxo cipriota, Chrysostomos II, e participou de uma reunião na Catedral Ortodoxa de Nicósia.   

“Desejo de coração que aumentem as possibilidades de nos encontrarmos, de nos conhecermos melhor, de abater tantos preconceitos e de ouvir docilmente nossas respectivas experiências de fé”, disse o Papa para o Santo Sínodo ortodoxo do Chipre.   

Francisco ainda pediu que católicos e ortodoxos não se deixem “paralisar pelo medo da abertura e de realizar gestos audaciosos”. “Não cedamos àquela irreconciliabilidade das diferenças, que não encontra respaldo no Evangelho. Não deixemos que as tradições, no plural e com ‘t’ minúscula, prevaleçam sobre a Tradição, no singular e com ‘T’ maiúscula”, acrescentou.   

Jorge Bergoglio reconheceu que os quase mil anos do Grande Cisma abriram “amplos sulcos” entre católicos e ortodoxos, mas também disse que o “Espírito Santo deseja que nos aproximemos com humildade e respeito”.   

Desde o início de seu pontificado, em 2013, Francisco vem percorrendo um caminho de reaproximação com as outras confissões cristãs, especialmente com ortodoxos, que são maioria no Chipre e na Grécia, os dois destinos de sua 35ª viagem internacional.   

Ocupação – Em seu discurso na Catedral de Nicósia, Chrysostomos II preferiu se concentrar na denúncia da ocupação turca na ilha, que vive dividida entre dois governos autônomos há quase 50 anos.   

A maior parte, de maioria étnica grega e pertencente à União Europeia, é a República do Chipre, enquanto a porção setentrional corresponde à autoproclamada República Turca do Chipre do Norte, reconhecida apenas pela Turquia.   

“Infelizmente, desde 1974, nosso Chipre e sua igreja atravessam seu período histórico mais difícil. A Turquia nos atacou ferozmente e sequestrou 38% de nossa pátria com a força de suas armas”, acusou o arcebispo ortodoxo.   

De acordo com Chrysostomos II, igrejas foram profanadas, queimadas e demolidas, enquanto a Turquia empreendeu um plano de limpeza étnica na parte norte da ilha.   

“Os 200 mil habitantes cristãos expulsos de suas casas com incrível barbárie foram substituídos por mais que o dobro de colonos que chegaram das profundezas da Anatólia”, acrescentou.   

O arcebispo pediu “apoio ativo” do papa Francisco contra a ocupação turca e disse “esperar com impaciência” a ajuda do pontífice para garantir a “proteção dos valores incalculáveis da cultura cristã, que hoje são brutalmente violados” por Ancara.   

Bergoglio fica no Chipre até este sábado (4), mas não está prevista nenhuma passagem pela parte turca da ilha. (ANSA).