Pela primeira vez na Copa América-2021, um herói diferente de Lionel Messi salvou a Argentina para chegar à final: o goleiro Emiliano Martínez fez sua apresentação para grande parte da torcida ‘albiceleste’ que nunca havia ouvido falar dele.

Assim como o astro que foi educado e ganhou experiência no Barcelona, este jogador de 28 anos de Mar del Plata adquiriu status de ‘expatriado’ antes de estrear na primeira divisão do futebol argentino. Por isso, na terça-feira após a euforia da classificação, muitos argentinos correram para a internet para pesquisar sobre o grandalhão que deu show no gol de sua seleção.

“Quem é ele?”, a pergunta foi repetida em diversos meios de comunicação do país como um título de perfil com a carreira do destacado goleiro da Premier League. Aqueles que acessaram a Wikipedia encontraram uma atualização: “Herói nacional argentino”, alguém escreveu ao lado de seu nome na enciclopédia colaborativa online.

Coube a ‘Dibu’ Martinez o papel de “glorioso” da noite, de acordo com suas próprias palavras, com três pênaltis defendidos contra os colombianos garantindo assim a vaga na grande final para a pátria que ele deixou quando era um adolescente.

E ele também mostrou que o fato de ter passado quase metade da vida fora do país não tirou um pingo de sua emoção, característica muito argentina. E nem o impediu de usar recursos mais de jogador de peladas de bairro do que de um lorde inglês quando provocou os adversários colombianos durante as cobranças.

Martínez é um dos talentos que saíram cedo do futebol argentino e é mais festejado em outra língua do que na sua. No caso dele, o inglês: aos 16 anos e chorando por ter que deixar sua família, ele trocou as categorias de base do Independiente pela do Arsenal de Londres.

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Mas tudo o que o goleiro fez desde então, garantiu ele em uma entrevista em 2019, foi para algum dia defender as cores de seu país.

– Fábrica albiceleste –

Messi e Martínez compartilham o início no exterior, para onde muitos outros partiram logo após entrarem em campo na liga nacional.

A história de ‘Dibu’, no entanto, é diferente da de Messi, cuja genialidade se impôs desde que tocou na bola. Depois da infância no Newell’s Old Boys, ‘La Pulga’ foi para o Barcelona aos 13 anos, que lhe pagou um tratamento hormonal, e aos 17 o jogador estreou na equipe principal.

Martinez não foi um daqueles tocados pela varinha mágica, nem com vaga garantida ou fama precoce. Assim como na seleção albiceleste, onde estreou há cerca de um mês nas eliminatórias, ele teve que esperar a oportunidade para agarrá-la com unhas e dentes. Isso aconteceu depois de uma década e seis empréstimos, devido à lesão do goleiro titular do Arsenal, Bernd Leno. E ele acabou sendo um destaque do time nas conquistas da FA Cup e do Community Shield.

“A Argentina é o primeiro país exportador de jogadores”, com um total de 3.215, seguida pelo Brasil, com 2.956, afirma Gerardo Molina, especialista em marketing esportivo da Euromericas, que elabora um estudo anual.

“A tendência é que haja muito mais Emilianos, desconhecidos dos argentinos”, aponta Molina.

Sua explicação é a saída e o amadurecimento dos jogadores cada vez mais cedo, hoje entre 16 e 17 anos, por conta de um circuito de mercado livre com facilidade de exportar. Na base, se multiplicam as academias que criam fundos financeiros com rendimentos atrativos.

Assim como Martínez, que em 2020 foi transferido por 20 milhões de libras ao Aston Villa e se tornou o goleiro argentino mais caro da história, muitos jogadores passam por vários clubes para se estabelecerem.

Mas esse sistema oferece lucratividade suculenta para agentes e clubes, além de um salário mais alto para o jogador. “Mesmo nas divisões inferiores, com os primeiros contratos nas cinco principais ligas da Europa são cinco vezes o que a Argentina pode pagar hoje”, detalha Molina.

Apesar de ter sido o melhor da Premier na temporada passada, só depois da semifinal de terça-feira o ex-goleiro ‘Pato’ Fillol, lenda do futebol argentino, elogiou o colega que até agora só sofreu dois gols no torneio.


Martínez diz que não importa se ele defende em Wembley ou em sua terra natal, Mar del Plata, porque o objetivo é o mesmo. No sábado é a vez do Maracanã para este goleiro, a quem, embora expatriado, não falta um fio de cabelo argentino: “Viemos atrás de um sonho. E nada melhor do que contra o Brasil, em seu campo”, vibra o jogador.

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