As minorias sexuais de Cuba esperam que o novo presidente, Miguel Díaz-Canel, abra novos caminhos para promover sua inclusão social e apague definitivamente os tempos de marginalização dos anos 1960, assim como as sequelas que ainda persistem.

Sucessor dos irmãos Castro e guardião de sua revolução socialista, Díaz-Canel foi forjado cuidadosamente dentro do Partido Comunista de Cuba (PCC, único), mas com uma maior abertura, iniciada por seu antecessor, Raúl Castro.

Díaz-Canel “teve sensibilidade em relação a essas questões, desde a época em que dirigia o Partido em Villa Clara (centro), apoiou muito a atividade do Centro Cultural El Mejunje como um lugar de diversidade, de encontro de pessoas que tinham dificuldade de se situar no contexto social” de uma Cuba castrista, explica Francisco Rodríguez ‘Paquito’, jornalista e ativista gay.

A revolução de 1959 perseguiu os gays em seus primeiros anos, chegando a enviá-los a campos de trabalho forçado para “reeducá-los”. Foi aplicada então uma política de marginalização que impediu seu acesso a cargos oficiais.

O próprio Fidel Castro, falecido em 2016, admitiu em 2010 que essa atitude oficial, que provocou a emigração e o ressentimento de artistas e intelectuais, foi uma “grande injustiça”.

Já sob o governo de Raúl, que assumiu o poder em 2006, foi sua filha, a deputada Mariela Castro, que promoveu o Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), organização criada no fim dos anos 1980 e que defende os direitos da comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais).

Ela afirmou que sua mãe e esposa de Raúl, Vilma Espín (falecida em 2007) dialogava com os dirigentes da União de Jovens Comunistas (UJC), para prepará-los nesses temas. Entre eles esteve Díaz-Canel.

Explicou que seu pai, atual primeiro secretário do PCC, também entendeu o tema. “O que fez como secretário do partido e presidente naquele momento foi mover cuidadosamente estes processos para alcançar os consensos”, comentou, considerando que Díaz-Canel dará continuidade a esta política.

“Díaz-Canel é um jovem que desde que era funcionário na UJC lhe cabia, entre as tarefas que lhe davam, a atenção ao Cenesex. A partir desse vínculo que existia, ele recebeu informação nestas temáticas”, explicou Mariela Castro, ao anunciar a 11ª Jornada contra a Homofobia e a Transfobia, que termina em 17 de maio.

– Mudanças na lei –

Segundo o ativista ‘Paquito’, Díaz-Canel, de 58 anos, “poderia ser o primeiro presidente cubano que falará diretamente com os gays, lésbicas, bissexuais, trans, e que mencionará nossas identidades em seu discurso. Eu espero que seja assim”.

Em 2012, Adela Hernández foi a primeira transexual a ser eleita vereadora por sua cidade, Caibairén, em Villa Clara. Os homossexuais podem servir no exército e o PCC rejeita agora a discriminação por orientação sexual. Também são gratuitas as operações de mudança de sexo.

No entanto não é permitida a união civil homossexual, embora em outubro de 2017, um tribunal tenha outorgado a custódia de três crianças à sua avó materna e aceitou o papel de um casal homossexual na criação destes, em uma sentença incomum na ilha.

A filha de Castro liderou em 14 de maio o desfile carnavalesco contra a homofobia na capital cubana. E o encerramento da celebração esteve a cargo da banda DECUBA, cujos vocalistas são Jenny e Miguel Díaz-Canel, filhos do novo presidente.

Mas para a inclusão legal dos homossexuais, ainda são necessárias mudanças constitucionais.

“Nas questões de casamento entre pessoas do mesmo gênero, se não se muda a Constituição não podemos avançar (…) No último plenário do comitê central do partido isto foi abordado com muita precisão e profundidade, ou seja, estamos avançando”, comentou Mariela.

Para o ativista Julio César González, da Rede Ibero-americana de Masculinidades, existe vontade política. “Espero que dentro de quatro ou cinco anos, muitos dos direitos que estamos reivindicando tenham sido conquistados”, afirmou, segurando uma bandeira arco-íris.