Os iranianos da diáspora na Europa sentem-se divididos entre a esperança de uma mudança de governo em Teerã e a violência da guerra com Israel, que ameaça seus parentes no país, segundo diversos depoimentos coletados pela AFP.
Em Frankfurt, Berlim, Londres e Paris, todos estão preocupados com o futuro do Irã e do Oriente Médio, após a escalada militar que causou inúmeras vítimas.
“Não sei o que pensar”, diz Hamid Nasiri, funcionário de uma empresa farmacêutica em Frankfurt, Alemanha.
“Choro pelas vítimas no Irã, é claro”, afirma o homem de 45 anos, referindo-se aos civis mortos por bombas israelenses.
Ao mesmo tempo, ele sente uma “certa esperança” ao ver Israel atacar um “governo islâmico conhecido por seus métodos brutais”.
Um dilema que ele compara ao vivido em 1945, quando a Alemanha nazista foi derrotada pelos Aliados.
“Naquela época, surgiu a pergunta: foi uma derrota ou uma libertação? Hoje, Israel está atacando o Irã: é uma agressão hostil ou uma libertação do regime?”.
Nasiri está, no entanto, “convencido de que a verdadeira democracia deve vir de dentro”. Sua opinião é amplamente compartilhada.
“Os iranianos precisam decidir por si mesmos como se livrar dos mulás, sem interferência estrangeira”, observa um gerente de restaurante em Frankfurt, “furioso” com a ofensiva israelense.
A diáspora iraniana está “dividida”, reconhece Hamidreza Javdan, ator que mora perto de Paris. “Alguns dizem ‘ninguém tem o direito de atacar nosso país’, outros acham que isso é aceitável e alguns apoiam Trump…”.
Este homem de 71 anos, natural de Teerã, acredita que “a história avança” e mantém “a esperança” em uma transição política.
Desde 13 de junho, Israel, uma potência atômica não oficial, realiza uma ofensiva sem precedentes contra o Irã, com o objetivo declarado de impedir Teerã de produzir a bomba atômica.
Em sua campanha militar, Israel atacou instalações nucleares, militares e energéticas, e matou comandantes de alto escalão do Exército e da Guarda Revolucionária.
Em resposta, o Irã atacou Israel com inúmeras salvas de mísseis.
“Pessoas inocentes estão morrendo, mas parece que a guerra é a única solução para que as coisas realmente mudem. Quantas manifestações já houve? E nada aconteceu”, explica Paria, de 32 anos, gerente de um restaurante iraniano em Londres.
Paria diz isso referindo-se à revolta popular de 2022, motivada pela indignação com o código de vestimenta imposto às mulheres e reprimido pelas autoridades.
E embora ela torça por uma mudança de regime, “estamos preocupados com o que pode acontecer”, diz sua mãe, Mona, de 65 anos, que mora em Londres há três décadas.
Ao medo do desconhecido se soma a angústia dos parentes e amigos que permanecem no Irã.
Uma professora iraniana contactada em Frankfurt está preocupada porque não consegue falar com uma amiga que mora no norte de Teerã desde sexta-feira.
“Ainda temos familiares e amigos no Irã, em Teerã. Eles estão fugindo para o norte. Estamos muito preocupados com eles”, confidencia Paria, em Londres.
O ator Hamidreza Javdan recebeu um telefonema do irmão na segunda-feira e está angustiado com as ordens de evacuação.
“Meu irmão tem mobilidade limitada; ele não pode simplesmente sair de Teerã. Além disso, Teerã tem 10 milhões de habitantes – para onde eles vão?”, pergunta.
Ali, que mora em Londres, também está muito preocupado com a família.
“Estou realmente chocado… Tenho familiares no Irã, em Kermanshah”, no oeste do país, “que foram bombardeados”.
“Nunca apoiei o regime iraniano; não gosto dele”, diz o homem de 49 anos. “Mas quem vai sofrer? O povo”.
Um tradutor iraniano de Berlim, que prefere permanecer anônimo, tem uma esperança: “Que esta guerra acabe com o regime dos mulás. Espero que sim de todo o coração. E então, todas essas mortes não terão sido em vão.”
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