Lusaine Yuabd domina quase todas as línguas do Marrocos -árabe clássico, dialeto e berbere- para alertar da melhor forma possível sobre os riscos meteorológicos no país, que enfrenta ondas de calor cada vez mais frequentes devido à mudança climática.
“Toda vez que é emitido um alerta meteorológico, intervenho nos meios de comunicação para avisar os marroquinos”, conta à AFP este engenheiro em meteorologia do Centro Nacional de Previsão de Casablanca (oeste).
Com 52 anos, ele cumpre esta missão de comunicação há dez anos, seja na televisão ou no rádio, especialmente para chegar às zonas rurais.
“No campo, os habitantes ficam felizes que nos expressemos em sua língua”, diz, precisando que fala darija (árabe dialetal), vários dialetos amazigh (berbere), como o tamazight e o tachelhit, e que está aprendendo tarifit, outro dialeto amazigh falado no norte do Marrocos.
Ben Achir Chekrun, marroquino aposentado de 66 anos que vive em Harhura, ao sul de Rabat, elogia os esforços empreendidos pelas autoridades. “Quando as temperaturas são extremas, recebemos a informação pelo rádio, mídia eletrônica ou jornais”, indica.
A Direção Geral de Meteorologia (DGM) anunciou recentemente que 2024 foi o ano mais quente já registrado no Marrocos, com um déficit médio de chuvas de 24,7%, e o país sofre um ciclo de seca contínua desde 2018.
No final de junho, foram registrados recordes mensais de temperatura em várias cidades. Em Ben Guerir (centro), o termômetro alcançou 46,4°C.
Para os próximos três meses, espera-se “temperaturas superiores às normais sazonais”, alerta Meriem Alauri, chefe interina do Centro Nacional de Clima do Marrocos.
Em escala mundial, a mudança climática está provocando fenômenos meteorológicos extremos mais prolongados, mais intensos e mais frequentes.
No Marrocos, durante esses fenômenos -ondas de calor, tempestades, inundações- são emitidos boletins de vigilância que são transmitidos às autoridades, à proteção civil e aos meios de comunicação.
E há alguns anos, os responsáveis locais são alertados por SMS para que, por sua vez, informem os habitantes, segundo Yuabd.
A DGM inclusive desenvolve sua presença nas redes sociais para tornar a informação acessível, e também está em andamento um projeto chamado “Smart Alert”, que tem como objetivo enviar diretamente aos telefones dos habitantes os boletins meteorológicos.
Mas nas zonas rurais mais remotas, esta mobilização enfrenta uma série de obstáculos, desde a falta de eletricidade até a escassez de meios para instalar ar-condicionado.
Em 2024, 5,4% dos habitantes das zonas rurais não tinham acesso à eletricidade e 20,4% careciam de uma fonte de água potável, segundo o Alto Comissariado para o Planejamento.
Para Hicham Feniri, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Água da Universidade Politécnica Mohamed VI, é necessário “garantir o acesso à água potável” para reduzir os riscos associados à desidratação.
Também promove um retorno à construção “à moda antiga, mas baseada na ciência e tecnologias limpas”.
O conselho de “manter-se bem hidratado” está entre os que as autoridades dão, detalha Lubna Ruhi, médica chefe do centro de saúde de Harhura.
Assim como “ficar na sombra, em lugares frescos”, evitar sair nas horas de maior exposição ao sol e “usar roupas claras e leves”.
Os esforços de conscientização do ministério da Saúde também se ampliaram a outros riscos. Recentemente lançou uma campanha nacional contra picadas de escorpiões e mordidas de cobras, que se tornam mais frequentes com o calor.
Em um país que registra cerca de 25.000 picadas e 250 mordidas por ano -desde casos apenas dolorosos até potencialmente mortais-, a elaboração de um kit médico específico “permitiu reduzir consideravelmente a mortalidade, passando de 7,2 % em 2013 para 1,2 %”, destaca Mohamed Esmaili, chefe de serviço na Direção de Atenção Ambulatorial do ministério.
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