Após uma pausa de cinco meses, as negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano recomeçam nesta segunda-feira (29) em Viena, mas analistas antecipam grandes obstáculos para uma retomada rápida do acordo de 2015.

Em junho, os negociadores encerraram a primeira fase das conversações com um tom positivo e afirmaram que estavam “perto” de um acordo, mas a perspectiva mudou com a chegada ao poder do presidente ultraconservador iraniano, Ebrahim Raisi.

O Irã ignorou por meses os apelos dos países ocidentais para a retomada das negociações, enquanto fortalecia seu programa nuclear.

O processo será retomado em um clima de pessimismo.

O enviado do governo dos Estados Unidos para questões sobre o Irã, Rob Malley, disse que a atitude de Teerã “não aponta nada bom para as negociações”.

O acordo de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), contemplava suspender algumas sanções econômicas contra o Irã em troca de limites rígidos a seu programa nuclear.

Mas o processo começou a ser desmantelado em 2018, quando o então presidente americano, Donald Trump, se retirou os Estados Unidos do acordo e retomou as sanções contra o Irã.

No ano seguinte, o Irã respondeu e ultrapassou os limites da atividade nuclear definidos no acordo.

Nos últimos meses, o país começou a enriquecer urânio a níveis sem precedentes e restringiu as atividades dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo da ONU responsável por supervisionar as instalações iranianas.

O diretor da AIEA, Rafael Grossi, visitou Teerã na semana passada com a esperança de abordar vários pontos de divergência entre a agência e o Irã.

Após a viagem, ele afirmou que não conseguiu avanços nos temas apresentados.

Para não afetar o diálogo JCPOA, diplomatas ocidentais decidiram não pressionar por uma resolução crítica do Irã na semana passada durante a reunião do conselho de ministros da AIEA.

O governo dos Estados Unidos, no entanto, informou que convocaria uma reunião especial do conselho em caso de continuidade da estagnação.

“A relutância do Irã em alcançar um compromisso relativamente claro com a AIEA reflete negativamente nas perspectivas de diálogo nuclear”, afirmou Henry Rome, especialista em Irã do grupo Eurasia.

“O Irã deve acreditar que seus avanços nucleares sem restrição… pressionarão mais o Ocidente a ceder rapidamente no diálogo”, completou Rome em um relatório, no qual adverte para a possibilidade de “efeito contrário”.

“A situação dos avanços nucleares iranianos é cada vez mais precária”, destacou Kelsey Davenport, especialista da Associação de Controle de Armas.

– Programa secreto? –

Davenport disse a jornalistas na semana passada que “embora o governo Trump tenha fabricado esta crise, as ações do Irã a estão prolongando”.

“O Irã se comporta como se os Estados Unidos fossem piscar primeiro, mas… a pressão é uma faca de dois gumes que pode matar qualquer perspectiva de restaurar o JCPOA”, acrescentou.

Uma área de preocupação para a AIEA é uma unidade de fabricação de componentes de centrífuga em Karaj, perto de Teerã.

A AIEA não tem acesso ao local desde que suas câmeras foram danificadas por um “ato de sabotagem” em junho.

O Irã acusou Israel pelo ataque.

“Em caso de brechas no monitoramento da AIEA, isso levará à especulação de que o Irã está envolvido em atividades ilegais, que tem um programa secreto, com ou sem evidências”, disse Davenport, que alertou que isto poderia “minar as perspectivas de manter o acordo”.

As negociações acontecerão no hotel Palais Coburg de Viena, onde o acordo foi assinado em 2015.

Diplomatas do Irã, Reino Unido, China, Alemanha, Rússia e França estarão presentes.

O governo dos Estados Unidos participará de maneira indireta.