Um dos fundadores do RenovaBR, o empresário Eduardo Mufarej acredita que a atuação de grupos de renovação política tem gerado tensão com as siglas tradicionais. Para ele, os partidos se veem confrontados pela perda do “monopólio” na formação de quadros para a política. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Mufarej defendeu, como arma para enfrentar a polarização, a ponderação e o diálogo, com limites: “Se alguém acha que a gente precisa de intervenção militar ou que a Venezuela é uma democracia, é muito difícil (dialogar)”. O RenovaBR realiza hoje a formatura de 1,4 mil alunos, dez vezes mais que no ano passado, de onde saíram 17 eleitos para o Congresso e assembleias legislativas.

O sr. vê rivalidade entre partidos e grupos de renovação?

Entre o Renova e os partidos, nenhuma. Temos 30 partidos dentro do Renova. Se alguém acha isso ruim, essa pessoa está com a cabeça na Idade Média.

Há resistência de partidos em relação à atuação de parlamentares que vêm de movimentos?

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A população quer novas práticas e novos personagens. Historicamente esses partidos tinham um monopólio de fundir esses quadros. Agora há outras entidades que preparam quadros, fazendo com que as pessoas se sintam preparadas e qualificadas para a política. Isso é valioso.

Alguns egressos do Renova tiveram atrito com seus partidos, como Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES). O RenovaBR os orientou?

Não há nenhuma orientação sobre como o congressista deve votar ou deixar de votar. É da consciência dele.

Como manter o discurso da renovação enquanto algumas figuras do RenovaBR já tiveram cargos em governos, como Marcelo Calero (Cidadania-RJ) e Filipe Sabará (Novo-SP)?

Essas pessoas buscam conhecimento. Um médico não fica oito anos na faculdade para operar um paciente? Por que um político não pode se formar e se qualificar? Não dá para a gente continuar elegendo pessoas que chegam para cumprir suas funções sem ter nenhuma capacidade e formação para isso.

Os partidos têm essa filosofia?

Acho que não, mas estamos começando a ver programas de formação nos partidos.

O sr. defende as candidaturas avulsas?


Acho algo positivo porque cria condições para que pessoas que não querem se filiar a partidos possam ser candidatas. Noventa por cento das democracias do mundo permitem candidaturas avulsas.

O que o sr. espera das eleições de 2020?

Minha torcida é que a gente saia dessa discussão polarizada e vá para a discussão de pautas. Será uma prévia do que vai ser a eleição de 2022. Vai apontar um pouco para onde está a preferência do eleitor e o quanto cada partido ou personagem manteve de força.

Você vê uma saída para fugir da polarização entre os bolsonarismo e o petismo?

Tem um caminho que é o da ponderação, do diálogo, da construção de pontes.

E há espaço para diálogo com esses extremos da polarização?

Muito difícil. Se alguém acha que a gente precisa de intervenção militar ou que a Venezuela é uma democracia, é muito difícil (dialogar).

Então não é 100% de diálogo…


Entre essas pessoas… Mas elas são minoria. Minorias que hoje estão monopolizando o discurso.

O apresentador Luciano Huck é citado como pré-candidato a presidente e é um dos principais apoiadores do RenovaBR. Vocês vão apoiá-lo?

Não. O Renova não pode defender uma candidatura. É uma escola de formação.

E o sr., pessoalmente, como vê a candidatura de Huck?

Candidaturas que ajudam a gente a sair da polarização e que trazem pessoas de fora da política querendo ajudar a resolver os problemas do País são indicativos de que a sociedade está incomodada e quer achar soluções para os problemas. E isso é muito bom.

Houve críticas às bolsas em ano eleitoral – em 2018, cada bolsista recebeu até R$ 12 mil. A decisão de não conceder uma bolsas neste ano evita esse tipo de crítica?

Acho que sim. Mas as bolsas (em 2018) foram fora do período eleitoral. Entendíamos que, para que um cidadão comum, sem histórico na política, pudesse se dedicar, como se (ela) sustentaria? Era uma desigualdade de condições muito grande. Neste ano, o programa teve ensino a distância com carga horária menor que ano passado. Eram muitos alunos. Seria muito caro (pagar as bolsas).

O orçamento do RenovaBR é expressivo. No ano passado recebeu R$18,5 milhões em doações.

A gente aumentou o tamanho do programa em 10 vezes…

A que o sr. atribui o crescimento da turma neste ano?

Ajudamos a despertar em muita gente a vontade de se preparar. A resolução dos problemas do Brasil passa pela política. Historicamente, para o cidadão comum participar da política, o caminho era procurar os partidos. O RenovaBR fez com que o desejo de se preparar para servir a sociedade acontecesse.

Que avaliação o sr. faz da atuação das dez lideranças do RenovaBR que estão no Congresso?

Está sendo muito positivo. Temos despontado em várias formas de avaliação e se constituindo como lideranças relevantes pela capacidade de trabalho, de mobilização, de pensar diferente. A gente estava sem bons exemplos na política.

Mas o que eles fazem de diferente?

É muito diferente. Trabalham muito, são proponentes, vão a fundo nas questões. Todos passaram por seus processos de adaptação. Quando você é eleito, você não tem mais opositores de urna, mas pares no Congresso, com quem você trabalha e convive para os projetos avançarem. Não basta ter seguidores e ser comunicativo nas redes sem se comunicar com seus pares. É um desafio de mobilização.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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