A campanha de conscientização para os cuidados com os rins dos humanos também se estende para o mundo animal. Segundo a Sociedade Internacional de Interesse Renal (IRIS, na sigla em inglês), estima-se que a doença renal crônica (DRC) afeta entre 0,5% a 1% dos cachorros e de 1% a 3% dos gatos.

Uma vez que o problema não tem cura e os sintomas demoram para aparecer, os veterinários alertam para a necessidade de exames periódicos a fim de identificar a doença precocemente. Com isso, é possível tratar a DRC adequadamente, dar uma melhor qualidade de vida para os animais de estimação e aumentar o tempo de vida deles.

O veterinário Alexandre Daniel, consultor da Elanco, explica que os gatos são mais propensos a ter essa doença por questões evolutivas da raça felina. “Eles vêm de regiões desérticas, com escassez de água, então o gato concentra muita urina e não são muito bebedores de água”, diz.

Além disso, eles são bons em ‘esconder’ os sintomas. “Por natureza, por ser uma espécie solitária – exceto leões que vivem em bando -, ele oculta os sintomas, pois é um predador do topo da cadeia e, se demonstrar fraqueza, vira presa”, explica Alexandre.

Outro motivo para os sintomas tardios é que a capacidade de reserva de néfrons dos gatos é muito grande, diz o especialista. Os néfrons fazem a filtração e formação da urina e são eles os afetados pela DRC. Mesmo quando são perdidos, o organismo dos felinos ainda consegue funcionar bem e isso faz com que os sintomas demorem mais para aparecer.

Por conta disso, Alexandre afirma que os tutores só vão perceber que o gato está com algum problema quando dois terços da funcionalidade renal é perdida. “Quando ele perde 75% dos néfrons, começa a ter alteração em exame de sangue”, pontua.

Sem causa definida, a DRC apresenta, principalmente, os seguintes sintomas: aumento da ingestão de água e de urina. O gato pode ainda perder peso, ficar com apetite seletivo e, em casos mais graves, parar de comer.

Vânia Argento perdeu dois gatos por conta da DRC, o Lobo, que morreu com 12 anos em 2015, e o Urso, que tinha 14 anos, em 2017. O primeiro aguentou o tratamento por três meses e o segundo, que teve uma qualidade de vida melhor, por oito.

“A gente que convive todo dia não percebe que eles vão emagrecendo, mas sempre fui muito atenta a eles para dar o melhor. O Urso, percebi que estava leve quando o peguei para cortar as unhas, e o Lobo vomitava espuma e não quis mais dormir com a gente”, relata Vânia. “São coisas que eles fazem no dia a dia e deixam de fazer.”

O fato de os gatos de Vânia já estarem velhinhos é um agravante, pois a incidência da doença aumenta conforme o avanço da idade. Dados da IRIS estimam que a DRC acomete de 30% a 50% dos felinos a partir dos 15 anos, idade considerada geriátrica. No entanto, a doença não é exclusiva dos idosos.

Pizza, a gata de Daiana Vidal, foi diagnosticada com insuficiência renal crônica em fevereiro de 2018, cinco meses após completar dois anos de idade. Os veterinários identificaram, ainda, micro pedras nos rins e na bexiga. “Ela diminuiu o apetite por dois dias e no terceiro não comeu nada, bebia muita água e o volume de urina aumentou. O comportamento também mudou”, explica a tutora. De 4,5 quilos, a gatinha chegou a pesar 2,7 quilos.

“Quando descobri, chorei mais que no enterro da minha avó, parecia que parte minha tinha morrido, cheguei a faltar no trabalho e parar cursos. E o gasto financeiro me deixava pior”, relata Daiana. Na USP, ela conseguiu atendimento e preços mais acessíveis para o tratamento.

Tratamento

A doença precisa de cuidados paliativos de acordo com os sintomas apresentados. Pizza, por exemplo, toma remédio para enjoo, hormônio para controlar anemia e soro subcutâneo, que Daiana aprendeu a aplicar. Ela também come ração renal junto com a comum e, hoje, pesa 4,1 quilos.

“Costumo dizer que a Pizza é uma bomba relógio, e como o tratamento é paliativo, dou qualidade de vida o máximo que posso e muito carinho. Cuido dela todos os dias e brinco como se fosse o último e assim trabalho a ideia de que a expectativa de vida dela, segundo a veterinária, é de mais cinco ou seis anos”, conta Daiana. Agora, ela planeja levar a Sorvete, irmã da Pizza, para exames, pois existe a possibilidade de a doença ser genética.

Cachorros

Segundo Bianca Bennati, veterinária da clínica SPet, junto à Cobasi São Bernardo, a DRC em cães é mais comum pelo fator idade avançada. Embora a doença comece a se apresentar no organismo a partir dos sete anos, os sintomas também demorar para se manifestar. Em filhotes, o caso pode ser genético.

Os sintomas incluem mau hálito, machucados na boca, perda de apetite, respiração ofegante e desidratação. Em alguns casos, convulsões podem ocorrer. Enquanto os gatos ficam constipados, os cachorros têm diarreia. O tratamento também é feito a partir dos sintomas. Muitas vezes, é preciso corrigir a alimentação para uma mais úmida e de melhor qualidade.

A veterinária conta que algumas raças são mais propensas a desenvolver DRC, como doberman, beagle, cocker, shih tzu, lhasa apso, poodle, yorkshire e samoieda. “Geralmente é genético. Na hora de selecionar as características da raça, escolheram mais aparência e comportamento e não se atentaram para a saúde”, explica a médica.

Embora não seja possível falar em prevenção, alguns cuidados podem melhorar a qualidade de vida de cães e gatos. Os especialistas indicam uma ração de boa qualidade, o estímulo a beber água e evitar alimentos tóxicos. Além disso, vale fazer check up a partir dos cinco anos, anual se não tiver doença e, de acordo com o grau, se estiver doente.

Para reforçar o alerta, a Elanco realiza neste mês a campanha Março Amarelo pelo quarto ano consecutivo. O objetivo é conscientizar e engajar tutores e médicos no diagnóstico precoce e no tratamento da doença renal crônica em gatos.