O ex-enfermeiro e diácono de uma diocese na região belga de Flandes admitiu no primeiro dia de um processo em Bruges (noroeste) ter provocado a morte de 20 pessoas, informaram nesta terça-feira (23) meios de comunicação locais.

Ivo Poppe, de 61 anos e apelidado pela imprensa local de “diácono da morte”, forneceu pela primeira vez uma estimativa do número de suas vítimas, superior às 10 mortes atribuídas a ele.

“Foram 10 ou 20, 20 no máximo, aproximadamente”, respondeu o acusado durante o primeiro interrogatório judicial.

“Queria acabar com o sofrimento de pessoas que já não viviam”, afirmou Poppe, que expressou arrependimento. “Hoje eu chamaria uma equipe de cuidados paliativos”, acrescentou.

A maioria de suas vítimas era de idosos, a quem ele decidiu diminuir o sofrimento físico ou psíquico quando trabalhava como enfermeiro em um hospital de Menin, perto da fronteira com a França.

O método consistia em administrar grandes doses de valium ou injetar ar nas veias dos pacientes.

Primeiro matou pacientes como enfermeiro, nos anos 1980 e 1990, e depois o fez até 2011, após ser ordenado diácono.

Durante a investigação, que se baseou em uma lista de 50 mortes suspeitas, admitiu ter reduzido o sofrimento de quatro parentes, incluindo sua mãe e dois tios.

Na audiência desta terça, dois policiais encarregados da investigação explicaram que o interrogaram em até 65 ocasiões para tentar obter uma confissão detalhada, baseando-se especialmente em suas declarações logo depois de sua detenção, quando deixou entrever seu envolvimento em 49 mortes.

Mas foi em vão. “Não temos nenhuma ideia do número” de vítimas, disse um deles, segundo a agência Belga. “Não disse nada que provasse que efetivamente houve mais de quatro”, acrescentou.

Os investigadores também indicaram que o consideravam suspeito de muitas mortes em 1993, ano em que “estava especialmente estressado após a operação de sua esposa, o divórcio de sua irmã, a reforma de sua casa e a formação para se tornar diácono”.

Em 2 de janeiro daquele ano, duas mulheres que se encontravam no mesmo quarto do hospital de Menin faleceram. Outras três pessoas da clínica morreram no mesmo dia, no início de março de 1993.

O julgamento, que deve durar duas semanas, terá 80 testemunhas. Poppe enfrenta a prisão perpétua.

Na Bélgica, a eutanásia ativa é autorizada desde 2002 para os pacientes que sofrem de um mal incurável e que tenha feito seu pedido neste sentido de forma voluntária. Um médico deve se encarregar de praticá-la.