O Dia Internacional da Mulher, comemorado oficialmente há quarenta e sete anos na data de 8 de março, vai muito além de uma homenagem – quem o reduz a isso o faz por arraigado machismo ou profunda ignorância. O 8 de março significa a força da mulher em constante luta contra a subserviência que o homem quis e quer impor-lhe, tentando sempre privá-la de seus direitos constitucionais — isso se viu e ainda se vê em diversas partes do Brasil. E do mundo.

Traduz-se o Dia Internacional da Mulher pelas conquistas no campo dos direitos sociais e dos direitos fundamentais. Muitos e muitos homens sempre temeram que a mulher colocasse o nariz para fora da janela porque poderia superá-los profissionalmente. Pois é, foram mesmo superados. É tal superação o que se vê, nos dias de hoje, em que a mulher conquistou para si o direito ao trabalho nas mais diversas áreas do conhecimento, nas mais diversas atividades.

A data de 8 de março não foi escolhida por acaso. Existe uma forte história e envolvê-la, e já aí está presente a truculência masculina. Em 1857, na cidade de Nova York, tecelãs entraram em greve reivindicando paridade com os homens nos salários e nas condições de trabalho.

Um grupo de cento e trinta mulheres foi trancafiado pelos gerentes em uma das fábricas. Então, eles atearam fogo; então, elas não tinham como se salvar; então, as cento e trinta morreram incineradas. No ano de 1910, em um congresso na Dinamarca, houve a proposta de criação do Dia Internacional da Mulher: 8 de março foi a data do massacre em Nova York. Em 1975 a ONU reconheceu oficialmente esse direito e esse tributo.

Fiquemos, agora, restritos ao Brasil. A violência segue: mulheres são as maiores vítimas de trabalho em condições análogas à escravatura. Mais: simplesmente por serem mulheres (ou seja, o que está em jogo é o gênero feminino, é o “outro feminino”), elas são mortas por maridos e ex-maridos, namorados e ex-namorados, parceiros e ex-parceiros.

A frase mais cretina que ouvi na minha vida, e ainda ouço, é homem dizendo que “em mulher não se bate nem com uma flor”. Quanto derramamento emocional falsamente amoroso! Claro, não se bate em ninguém, seja com flor, seja com espinho. No Brasil, cordial na passionalidade como nos ensinou Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, essa frase corre solta – e tiros contra mulheres também. Uma mulher é morta a cada seis horas no País. Quer que eu repita? Uma mulher é morta a cada seis horas no País. Isso faz quatro vítimas fatais por dia. Absurdo total. Barbárie!

Agora, em 2022, entre as tantas batalhas e vitórias das mulheres, são comemoradas também nove décadas do direito ao voto, embora elas só tenham conseguido o pleno sufrágio anos depois de 1932. Toda a nossa concentração, no entanto, tem de estar focada nos alarmantes números relativos à violência contra a mulher, como já foi dito acima. São índices inaceitáveis porque caracterizam um padrão não civilizatório de sociedade. Todas as autoridades desse País têm de tomar imediatas providências, não podem as mulheres seguirem na condição de “seres coisificados” – gente que vira alvo de ira, por exemplo, quando quer colocar fim em uma relação amorosa.

Mais do que nunca, é preciso ir à luta. Que seja implantada no Brasil a democracia de gêneros. Que seja tratada, cada mulher, com todos os direitos e todas as garantias individuais e fundamentais. Que seja assegurada, a cada mulher, a liberdade de viver.