O Brasil conta os dias que faltam para que tenhamos no Palácio do Planalto um presidente da República. Passamos pelos piores anos da história republicana. A cada dia éramos surpreendidos por ações absolutamente incompatíveis com os interesses nacionais, com as tarefas afeitas aos grandes problemas nacionais ou, simplesmente, com o decoro presidencial. O que parecia inimaginável era superado no dia seguinte por atos mais abomináveis, como se vivêssemos em um romance distópico interminável.

O processo eleitoral, a duras penas, conseguiu dar ao eleitor a possibilidade de recolocar o Brasil nos trilhos civilizatórios. Evidentemente que a plena retomada da democracia, dos valores consubstanciados na Constituição de 1988, não será tarefa fácil. E, tudo indica que também será um processo longo no tempo. A ilusão que a mera promulgação da Constituição cidadã levaria a edificação de uma sociedade plenamente democrática foi uma ilusão – e de longa duração.

Passamos as últimas três décadas sem que enraizássemos os princípios tão dificilmente conquistados – basta recordar o autoritarismo mais recente da ditadura militar – no nosso cotidiano. As aparências de que estávamos em plena vivência de um regime de amplas liberdades e com instituições consolidadas foi um engodo. Em essência, o velho reacionarismo e autoritarismo nacionais estavam vivos – só que adormecidos, esperando a primeira oportunidade para aflorar.

Em essência, o velho reacionarismo e autoritarismo nacionais estavam vivos – somente que adormecidos, esperando a primeira oportunidade para aflorarem

O processo eleitoral de 2018 abriu as comportas de uma violência política inesperada para muitos. É como se fosse uma novidade, algo impossível de acontecer em um País sob a vigência da Constituição de 1988. O grande erro foi não ter construído no Brasil – e é um processo cotidiano – uma cultura política democrática. Isto não se faz da noite para o dia. Porém, não há desculpa: tivemos mais de três décadas para colocar em prática esta tarefa. E pouco ou nada fizemos. Convivemos com o passado autoritário fingindo que nada tinha acontecido ou que, no máximo, alguns excessos foram cometidos.

Incorporamos à nova ordem os egressos do passado (recente) ditatorial como se fossem democratas sinceros. E não oportunistas que, sequiosos de se manter no poder, vestiram, com a maior desfaçatez, a fantasia de democratas. Agora temos uma missão fundamental para que o bolsonarismo não se mantenha como importante ator político ou até retorne à Presidência da República. Edificar a democracia como valor permanente.