Nesta semana, uma brasileira conseguiu uma faixinha de luz em meio aos holofotes que normalmente destacam figuras voltadas à destruição, de Joe Biden a Vladimir Putin, de Djoko a Robinho. A pesquisadora Luciana Gatti, que coordena o Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), chegou mansamente ao noticiário, mas a mensagem que traz é aterradora: a Amazônia, que retirava gás carbônico da atmosfera com suas extensas florestas, já não é mais a grande redentora do planeta. Pelo contrário. Passou a emitir gás carbônico – aquele que é o principal responsável pelo efeito estufa do planeta.

Nem é preciso ver filmes de catástrofe para se para imaginar o que virá daqui para frente. A pesquisa do grupo de Luciana foi publicada na quarta-feira, 14, por aquela que é considerada a principal revista científica do mundo: a Nature. Das conclusões do trabalho, se deduz o quanto os mandatários do Brasil (que toma 60% do território amazônico) ajudam, acelerada e criminosamente, a piorar a situação climática do mundo inteiro.

Segundo dados do INPE, entre janeiro e dezembro de 2021 foram detectados 8.219 km2 de alertas de desmatamento naquela região, pelo sistema Deter-B. Os 8.000 km2 foram ultrapassados pelo terceiro ano consecutivo – o que nunca havia ocorrido antes de Jair Bolsonaro. Como também nunca se tinha visto fogo ateado de propósito em matas nativas, garimpeiros e fazendeiros devastando grandes extensões de terra impunemente, ou dezenas de balsas de mineração liberadas para dragar o rio Madeira.

Em dezembro passado, o professor Ricardo Galvão, físico que foi exonerado da direção do INPE, falou à ISTOÉ sobre o trabalho de Luciana. Com a Amazônia passando de absorvedora para emissora de gás carbônico e a média de temperatura subindo, a desertificação se alastrará do Nordeste ao Sul da Amazônia (no “Arco do Desmatamento”, como denominou a geóloga Bertha Becker), forçando ondas de migração da população pelo país. “Destruir a Amazônia é a nossa morte”, comentou Galvão.