Passados 20 anos da criação do Facebook, ainda nem mesmo conseguimos progredir com a regulação das redes sociais, de modo a coibir seus abusos de ordem individual e coletiva, e ao menos três notícias recentes indicam que estamos caminhando rápido demais com os avanços tecnológicos, novamente atropelando a ética.

Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter), anunciou que sua empresa Neuralink realizou, no último dia 28, o primeiro implante cerebral de eletrodos em um ser humano. Já aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), órgão americano com atribuições similares à Anvisa, o procedimento teria o objetivo de permitir, a posteriori, que uma pessoa controle computadores com a mente.

Segundo a Neuralink, a interface cérebro-computador poderá, no futuro, ajudar a interpretar sinais e tratar doenças como paralisia, epilepsia e doença de Parkinson. No entanto, um artigo publicado na revista MIT Technology Review, afirma que “a maioria das alegações médicas da empresa permanece altamente especulativa”.

Musk, por sua vez, teria enchido um conselho de supervisão de pesquisa animal, uma exigência governamental, com membros da Neuralink, que se beneficiam diretamente com o avanço das metas da empresa.

Tais conselhos devem garantir altos padrões de pesquisa e a confiabilidade dos dados, fatores levados em conta quando os reguladores decidem se medicamentos ou dispositivos médicos são seguros para uso em humanos.

Nos EUA, o grupo de direitos animais Comitê Médico para Medicina Responsável (PCRM) acusou a Neuralink de causar “sofrimento extremo” a macacos durante testes. Em um documento, o PCRM também sugere que houve manejo inseguro de implantes removidos dos cérebros de macacos, com risco de transmissão de doenças infecciosas.

O outro episódio é igualmente preocupante: imagens sexualmente explícitas da cantora Taylor Swift, criadas por inteligência artificial, inundaram recentemente as redes sociais. Compartilhada no X, uma dessas fotos foi visualizada 47 milhões de vezes antes que a conta responsável pela publicação fosse suspensa pela plataforma.

Ainda a propósito de inteligência artificial, o Spotify firmou uma parceria com a OpenAI para clonar as vozes dos apresentadores e participantes de podcasts e usá-las para dublar os programas em outras línguas.

O uso de IA em dublagem já havia acendido o sinal de alerta de profissionais nos Estados Unidos, no ano passado. A United Voices Artists (UVA), uma associação internacional criada para representar dubladores no mundo todo, lançou a campanha Real Voices, que pede a regulamentação da tecnologia.

O que está em jogo? A possibilidade da profissão ser substituída por ferramentas de IA, capazes de gerar, por exemplo, falas de atores estrangeiros em português. Em tempo: no Brasil, o público prefere filmes dublados a legendados.