Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Deus, o que fizemos? Que erro terrível cometi com Bolsonaro. Perdão

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Foto: Reprodução/Twitter

Robert Lewis (1917-1983) foi o piloto americano da missão secreta que culminou na explosão da primeira das duas bombas atômicas que dizimaram o Japão em 6 de agosto de 1945.

Ele estava a bordo da aeronave B-29, responsável por carregar o artefato nuclear “Little Boy” que, tão logo foi detonado, pulverizou instantaneamente 150 mil moradores de Hiroshima.

Essa era uma bomba de Urânio. Três dias depois, em 9 de agosto, uma outra carga atômica, de plutônio, chamada “Fat Man”, explodiu sobre Nagasaki incinerando 80 mil vidas.

Lewis retratou o horror a que assistiu – e que fora responsável – em um diário. Nele, além de desenhos do “cogumelo atômico”, relatou a missão e escreveu: “Deus, o que fizemos?”.

Somadas as duas bombas, numa comparação simplista, forçada e diria esdrúxula, a Covid já matou mais brasileiros que a tragédia atômica da Segunda Guerra: 280 mil a 230 mil mortos.

Ao pensar no meu voto no segundo turno da eleição presidencial de 2018, me ocorreu a frase: “Deus, o que fizemos”? Na verdade, eu pensei: Deus, o que (que merda) eu fiz?

Os americanos são mestres em criar frases: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para humanidade”, Neil Armstrong, em 20 de julho de 1969 ao pisar na lua.

No primeiro turno votei em Henrique Meirelles. No segundo, com os olhos fechados e o nariz tampado, pedi para minha filha, então com 12 anos, apertar o 1 e o 7, pois não tive coragem.

Minha ojeriza ao lulopetismo e a tudo o que ele representa me fez, assim como a milhões de outros brasileiros, fingir que Jair Bolsonaro era melhor, senão menos pior, do que Haddad.

No começo do governo, diante uma boa formação ministerial e alguns acertos, até cheguei a elogiar o atual verdugo do Planalto – e a criticar o excesso de má-vontade da imprensa.

Contudo, a partir dos desatinos subsequentes, e sobretudo após o desembarque do maldito novo coronavírus no País, o que já não era doce se tornou amargo; um féu intragável.

O amigão do Queiroz, pai do senador das rachadinhas e da mansão de 6 milhões de reais, é um dos maiores erros da minha vida. E olhem que a concorrência é grande e variada.

Eu não vou adentrar ao mérito do compadrio com o Centrão, a demonização de Sergio Moro, a extinção da Lava Jato e o boicote à prisão em segunda instância. Isso é pouco.

Tampouco irei me ater às catastróficas medidas econômicas e ao maior estelionato eleitoral da nossa história. Muito menos lamentar os pensamentos toscos e as falas desconexas.

Minha “treta” com Bolsonaro é outra! E começou com as seguidas tentativas de autogolpe em 2020, para chegar até os dias de hoje, com seu comportamento insano e infame.

Seja como presidente ou ser humano (ele é?), em relação à Covid-19, às vítimas fatais e aos familiares e amigos, suas falas e atitudes são abjetas, eivadas de ódio, violência e mentiras.

Desconheço, inclusive, nos dias de hoje, ao menos, ditadores e facínoras, mundo afora, que reproduzem o comportamento vil que Jair Bolsonaro impõe ao Brasil e aos brasileiros.

Já são 3 mil mortos por dia por Covid-19. Quase 300 mil vidas que se foram. Sem vacinas, o maníaco da cloroquina nos lidera a uma catástrofe sem precedentes em nossa história.

A mim me parece que o sujeito opera em duas frentes: a loucura, que acredito lhe ser nata. E o método, a fim de levar o País ao caos sanitário, econômico e social. E ao golpe!

Não à toa investe tanto em desinformação, mentiras e cisão da sociedade. Como não é à toa sua obsessão armamentista, e o populismo financeiro com as Polícias e as Forças Armadas.

Bolsonaro sonha, planeja, trabalha e tentará, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, golpear a democracia. Por isso me penitencio tanto. Não só, mas também por isso.

As perdas nesta pandemia, materiais e humanas, são terríveis e irrecuperáveis para milhões de brasileiros. E o presidente é incapaz de um gesto de consolo, uma palavra de carinho.

O sujeito só pensa em si, na sua prole enrolada com a Justiça e em sua reeleição. Se em 2022 o Brasil contar com menos 500 ou 600 mil brasileiros, e daí? Ele não é coveiro.

O País atirou no lixo, graças a Bolsonaro e a Pazuello, mais de uma centena de milhão de doses de vacinas, ainda em 2020. Quantas vidas isso já está custando e ainda custará?

Entendem, caros leitores, por que escrevo tanto sobre esse energúmeno e sou tão ácido nas palavras? É um misto de indignação e de raiva. Uma espécie de… culpa! E como não sentir?

Encerro com um sincero pedido de desculpas pelo que fiz. E ainda que eu considere meu erro imperdoável, apelo à boa vontade daqueles que também erraram como eu errei. Perdão.