Ao mesmo tempo em que muitos países tomam — de novo — dolorosas medidas de emergência para parar a Covid uma nova visão do combate à pandemia nos chegam de Singapura. Ela surpreende por ser tão simples quanto radical, mas sobretudo, porque, inevitavelmente, todos teremos que adotá-la.

A cidade-Estado com 5,7 milhões de habitantes — um Rio de Janeiro um pouquinho menor — foi sempre considerada como um modelo a seguir na gestão pandêmica. Eles conseguiram conter todos os surtos anteriores, e são donos do crachá “Menor mortalidade por habitante”. No entanto, seus responsáveis estão querendo romper com esse passado de sucessos e querem seguir outro método (radicalmente diferente) de combate à crise sanitária. Eles acreditam que agora é preciso parar de contar — as infeções e os óbitos — e apostar tudo na responsabilidade dos cidadãos. A convicção deles é que a Covid, como muitas outras doenças semelhantes, nunca mais irá embora.

É urgente transformar a pandemia em algo menos ameaçador, e olhá-la com mais naturalidade

Assim, pela primeira vez desde que este vírus alastrou pelo mundo, um país independente, rico, com uma liderança política estável e sem lados extremados na visão do combate à pandemia, se afasta do modelo “transmissão zero” que é o adotado na maior parte das democracias constitucionais parlamentares. O método é simples. Acabar de vez com novos confinamentos, parar com rastreio em massa e permitir a volta das viagens (e do turismo) sem quarentenas, recomeçando shows, futebol e eventos de grande audiência. A vida de volta como ela era. Os políticos de Singapura sabem que o modelo de “transmissão zero”, tão exigente em quarentenas rigorosas e punitivas está condenado, porque à medida que as novas variantes se forem propagando, será impossível continuar parando a economia. O Show tem de continuar!

É urgente transformar a pandemia em algo menos ameaçador, e olhá-la com mais naturalidade. Tratá-la da mesma forma e com o mesmo respeito como trata o alcoolismo, o tabagismo, e a gripe, a varicela, a tuberculose e outras doenças com quem há décadas, a humanidade convive com respeito e sem histerias. O mundo precisa parar de perder tempo com o acessório e se ocupar com o essencial. Esquecer a política e se concentrar na medicina, acelerar na vacinação e na testagem e, mais que tudo ainda, apostar no respeito mútuo entre seres humanos. Como em todas as grandes mudanças da humanidade o demônio nos estará espreitando nos detalhes, mas será que desta vez Deus mora em Singapura?