Elas comemoram por serem “as eleitas” e preparam, entre risos e lágrimas, a recepção que darão ao papa Francisco em janeiro, quando ele visitar a prisão de Santiago, convictas de que o pontífice argentino transmitirá a paz de que precisam.

O Centro Penitenciário Feminino de San Joaquín, onde 620 detentas cumprem suas penas, será a primeira prisão feminina que o papa Francisco visitará.

Nos presídios do Chile e do mundo estão “as mulheres mais pobres, as que foram excluídas de família, educação, saúde. Elas chegam às prisões porque as que têm um bom advogado não são presas”, por isso é tão reconfortante que Francisco as visite, diz à AFP a freira Nelly León, que há 13 anos está à frente da coordenação da atividade pastoral nesta prisão.

Privadas de liberdade estão “as mais pobres entre as pobres”, acrescenta a religiosa, que conta que durante seus anos de trabalho no presídio feminino de Santiago ouviu “milhares de histórias de dor, de angústia, de desesperança”.

Neste lugar, em volta de um presépio montado pela metade sobre o altar da capela construída no interior desta penitenciária se concentra a maior parte dos preparativos para a ilustre visita.

“Olhar o seu olhar, que te dê essa paz. Estou orgulhosa, contente, ansiosa e sei que todas nós vamos chorar quando virmos o Papa”, diz à AFP Viviana Berríos.

Com a ajuda das religiosas, reclusas com bom comportamento preparam há meses a visita. Elaboram cruzes e pequenas pulseiras coloridas que, após serem benzidas pelo Papa, serão distribuídas em todos os presídios de mulheres do país, a cerca de 3.900 detentas.

Francisco chegará a Santiago no próximo 15 de janeiro, e após visitar vários pontos da capital chilena e as cidades de Temuco (sul) e Iquique (norte), partirá para o Peru.

– “Carinha feliz” –

“É muito lindo o que está por vir, vai marcar muito a minha vida”, diz Stefanie Salas, de 24 anos, presa por narcotráfico.

Stefanie valoriza suas conquistas dentro da prisão, como ter concluído o ensino médio, mas reconhece a dor que a falta de liberdade lhe provoca.

No presídio há amplas áreas comuns e uma longa lista de oficinas onde detentas trabalham para empresas em troca de um salário mínimo. Nestes espaços transitam sem uniformes as reclusas que mostram “bom comportamento”.

Música latina e risadas estridentes são a trilha sonora destes corredores, um clima festivo que só é perturbado por guardas que vigiam o perímetro e intermináveis corredores delimitados por grades que levam a setores sem acesso a visitas, onde ficam as presas mais conflitivas.

A metros da paróquia, a padaria da prisão reúne outro grupo de reclusas que transformaram a cozinha em um oásis. Lá, Ana Herrera, que aos 47 anos cumpre sua segunda sentença por narcotráfico, diz estar “feliz de que Francisco tenha escolhido este lugar”.

O Papa “me traz alegria. Ele tem uma carinha feliz, não é como João Paulo II, que tinha uma tristeza na cara. Os argentinos são assim, alegres!”, diz.

Ana lembra que aos 17 anos viu João Paulo II, quando o Pontífice visitou o Chile, em 1987, durante a ditadura de Augusto Pinochet. Desde aquele momento, sonha com que um papa a benza.

“Desde que estou neste lugar, perdi minha mãe, e há dois meses perdi o meu filho, e sei que ele vai me dar a sua paz e meu coração vai descansar tranquilo”.