Dirigente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Michael Saunders afirmou nesta terça-feira que a desvalorização da libra desde que o Reino Unido decidiu sair da União Europeia deve levar a inflação no Reino Unido para acima da meta de 2% do banco central. O mais novo membro do comitê de política monetária do BoE, Saunders disse esperar que o índice de preços ao consumidor atinja 2% no próximo ano e provavelmente supere a meta do BoE nos próximos dois ou três anos.

A desvalorização da moeda tende a elevar os preços dos importados, o que acaba por elevar os preços pagos pelos consumidores por bens e serviços. A inflação anual no Reino Unido ficou em 0,6% em agosto. “A inflação no Reino Unido é muito sensível a variações na taxa cambial”, disse Saunders.

A autoridade falou após dias de turbulência para a libra, que perdeu cerca de 15% ante o dólar desde que os britânicos votaram para deixar a União Europeia, em plebiscito realizado em junho. Na sexta-feira, a libra teve um forte recuo, depois se recuperou, o que participantes do mercado e autoridades britânicas atribuíram a operações feitas em negociações programadas por computadores.

Saunders disse que a volatilidade no curto prazo não é uma grande preocupação para os dirigentes, a menos que isso se reflita em grandes variações em outros ativos em libra. Ele afirmou que o recuo da moeda reflete a incerteza sobre a perspectiva econômica do Reino Unido após sua saída formal da UE, o chamado “Brexit”, e também afirmou que não seria surpreendente se a moeda recuar mais.

Em agosto, o banco central cortou a taxa básica de juros para a nova mínima de 0,25% e retomou o programa de compra de bônus para proteger a economia do resultado do plebiscito. Os dados têm mostrado desde então que a economia do país se saiu melhor que o esperado pelas autoridades.

Em sua fala, Saunders disse que o BoE deve olhar para além de qualquer alta na inflação gerada pelo recuo da libra, já que esta desvalorização cambial deve ser temporária.

Saunders também mostrou preocupação com as compras de ativos do banco central, que para ele podem acabar sendo contraproducentes. Segundo ele, pode se chegar a um ponto em que os efeitos adversos das compras de bônus “cancelem” o benefício que essas operações dão à economia. As compras de ativos dos bancos centrais elevam o preço de ativos, inclusive dos imobiliários, das ações e dos bônus. Isso ajuda a impulsionar o crescimento, mas também tende a beneficiar desproporcionalmente os detentores desses ativos, que tendem a ficar mais ricos. No Reino Unido, uma preocupação a mais é que a alta nos preços dos bônus, e a consequente queda nos retornos, tem aumentado os déficits dos fundos de pensão.

A autoridade disse que “se preocupa muito” com a possibilidade de que esses efeitos possam enfraquecer a eficácia da política monetária. Para ele, porém, ainda não se chegou a esse ponto. Fonte: Dow Jones Newswires.