Quando assumiu o cargo de ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Luiz de Almeida optou por fazer discurso repleto de obviedades, como ele mesmo definiu. De maneira geral, fez questão de enaltecer a existência de pessoas historicamente marginalizadas e discriminadas na sociedade. O ministro, sem dúvida, está coberto de razão. Até olhares desatentos percebem com facilidade o nível de violência diária cometida contra pessoas negras, especialmente as mulheres e os jovens, a comunidade LGBTQIA+ e gente em situação de rua, como acertadamente disse Almeida. É sim necessário, portanto, falarmos sobre o racismo e a desigualdade todos os dias. Em apenas uma semana vieram à tona dois fatos que a palavra absurdo não dá conta de defini-los.

No primeiro, duzentos trabalhadores baianos foram libertados pela Polícia Rodoviária Federal de vinícolas situadas em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul. Essa turma estava trabalhando em situação análoga à escravidão, na colheita de uvas para produção de suco e vinho. Usa-se o termo “análogo” porque oficialmente a escravidão terminou em 13 de maio de 1888.

Depois, no segundo caso, também incompatível com o século XXI, policiais militares executaram um adolescente a tiros, no bairro de São Geraldo, região Norte do Espírito Santo. O detalhe da ação é que no momento em que o PM atirou no rapaz, ele já estava rendido. Ou seja, não teria capacidade de reagir ou de investir contra o agente de segurança. Tomara que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania tenha firmeza para agir em conjunto com o governo e urgentemente mudar toda essa situação. Todas as pessoas que, no mínimo, não se indignarem com os dois trágicos acontecimentos perderam qualquer noção de humanidade, assim como Sandro Fatinel, vereador bolsonarista de Caxias do Sul.