“Não adianta nos iludirmos, sabemos que esse triste número vai aumentar significativamente”. A fala, bastante grave e realista, essencialmente sincera e livre de manobras políticas, veio do presidente chileno, Gabriel Boric (foto abaixo). Referia-se ele aos incêndios florestais no país que ultrapassaram as matas e invadiram cidades no início da semana passada, quando já haviam causado cerca de cento e quarenta mortes — o pior desastre natural no Chile desde 2010, quando um terremoto matou cerca de quinhentas pessoas. O fogo deixou corpos incinerados nas ruas, casas destruídas, carros retorcidos e uma imensidão de pessoas desabrigadas, não tendo o governo outra saída que não a de decretar estado de emergência. A região mais afetada é a que envolve a província de Valparaíso. Além dela, no entanto, o corpo de bombeiros, membros da defesa civil e voluntários tentavam conter o fogo no sul e na parte central do Chile. O presidente Boric, na terça-feira 6, quando a situação seguia calamitosa, reiterou o não descarte da hipótese de que o incêndio tenha sido provocado de forma intencional e criminosa.

Destruição e morte pelo fogo
(Divulgação)

LIVROS
Na Roda do Samba pede passagem

Uma raridade literária está desembarcando nas livrarias. Marca a estreia no mercado editorial do selo Serra da Barriga. Trata-se da reedição de Na Roda do Samba, do cronista Francisco Guimarães – a primeira, modesta e até agora única tiragem deu-se em 1933. O autor, apelidado de “Vagalume” (fácil perceber que se tratava de convicto boêmio), varava noites em terreiros e quintais de sambas de um Rio de Janeiro recém-saído da famigerada escravatura – Serra da Barriga é o local onde foi fundado o Quilombo dos Palmares. Guimarães, como ninguém nunca mais fez de forma tão detalhada, mesclou a história política e social do Brasil com a produção do samba. Apresenta-nos grandes compositores que o tempo apagou como João da Gente, Mirandella, Assumano, Sinhô e Donga, entre outros sambistas. “Vagalume” trabalhou no Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, onde criou a coluna Ecos da Noite. É pena que seu excelente livro não aborde o início da gravação elétrica no Brasil, logo após a Revolução de 1930, que permitiu que vozes de tímido volume como as de Noel Rosa, Wilson Batista e Assis Valente gravassem algumas de suas composições.

Destruição e morte pelo fogo
Sambistas no Rio de Janeiro: música e crônica política (Crédito:Divulgação)

FAMÍLIA REAL
O câncer não quebra protocolos de Buckingham

Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, notícias envolvendo a família real do Reino Unido sempre explodem em interesse em todo o mundo. Não poderia ser diferente agora, quando o Palácio de Buckingham informou, na semana passada, que o rei Charles III está com câncer. Dar notícias pela metade ou totalmente inconclusas também são características da nobreza inglesa, e a tradição foi igualmente mantida. De acordo com o comunicado oficial, Charles III já deu início ao tratamento. De que tipo? Em qual hospital? Silêncio! A família real é esfinge, ou, digamos, esfinge pela metade. “O rei Charles já começou o tratamento e está confiante”, disse um porta-voz palaciano. E onde é o câncer? Nesse ponto a esfinge silencia – e os tablóides promovem um festival de especulações. É sabido que no final do mês passado Charles III esteve hospitalizado para correção do aumento do volume da próstata, fenômeno físico normal em quem, como Sua Majestade, ultrapassou a casa dos 75 anos de idade. Mas é caso de câncer de próstata? Até o curto limite que se pode chegar, não. O câncer foi descoberto em outro local durante o procedimento na próstata. Há miríade de possibilidades. Mas o meio silêncio, como já se disse, compõe o protocolo. E na alegria ou tristeza, na saúde ou doença, o protocolo em Buckingham é sempre mantido. Os cânceres mais comuns no Reino são os de intestino e pulmão.

Destruição e morte pelo fogo
Charles III: segundo o Palácio, o tumor não é na próstata. Os cânceres mais comuns no Reino Unido são os de intestino e pulmão (Crédito:Samir Hussein – Handout/Getty Images)