Os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 servirão como divisor de águas para cinco esportes: surfe, skate, beisebol/softbol, escalada e caratê. No Brasil, atletas que praticam essas modalidades sonham em conquistar uma medalha olímpica. O desejo de representar o País no Japão faz parte do cotidiano do skatista brasileiro Pedro Barros – aos 22 anos, ele é considerado um dos maiores da atualidade em seu esporte.

“Participar da Olimpíada é mesmo o meu grande objetivo agora. Quando você se vê inserido nesse espírito olímpico, fica impossível não querer representar o seu País na competição mais importante do mundo esportivo”, comenta o skatista, que coleciona seis medalhas de ouro nos X-Games, o maior campeonato de esportes radicais do planeta. Não é pouca coisa.

Nascido em Florianópolis, Pedro Barros começou a andar de skate aos dois anos, ainda de fraudas. Apenas um ano depois, participou de um primeiro campeonato. Desde então, coleciona recordes e títulos. Aos 14 anos, foi o mais jovem a desafiar uma megarrampa. Com 18, já era tricampeão mundial.

Em 2016, ele concorreu ao prêmio Laureus, o Oscar do Esporte, na categoria “Esportes de Ação”. “Eu nem sabia o que era aquilo direito. Pesquisei na internet e quase não acreditei. Sentei do lado do Alexandre Pato na cerimônia e quando me dei conta, vi o (Usain) Bolt ali perto, fiquei de boca aberta.”

Filho do ex-surfista André Barros, Pedro cresceu entre a praia e o asfalto, sempre sobre uma prancha. “Meu pai pegava onda e ficou amigo do Léo Kakinho, que era um dos mais conhecidos skatistas do Brasil nos anos 1980. Ganhei do Kakinho o meu primeiro skate e ele foi meu mentor. Meu pai foi o cara que mudou a vida dele para me apoiar”, diz o garoto. “O surfe tem alguns elementos que consigo trazer para o skate. O estilo de andar, o posicionamento na prancha. Às vezes, vejo uma onda e penso que ela é uma rampa; em outras, tento andar como se estivesse surfando mesmo. Meu estilo vem dessa mistura radical”, garante Pedro.

Na última etapa dos X-Games, realizada na China, Pedro Barros ficou com a prata, mas não desaprovou sua participação. “Foi uma situação atípica, choveu todos os dias e eu me machuquei na primeira volta. Achei que teria de voltar para casa, mas por sorte levei meu fisioterapeuta. No fim, saí mais feliz desse evento do que em muitos outros em que ganhei”, afirma o skatista, que ainda pode encerrar o ano como o primeiro do ranking do World Cup Skateboarding (WCS). “A última etapa é a que conta.

Mas esse é o circuito não oficial. O título mundial ainda não saiu e no momento ainda estou em primeiro no Bowl Jam (modalidade do esporte)”, diz.

Em Tóquio-2020, o skate estará representado em duas categorias: street e park. A primeira imita obstáculos urbanos, como escadas e corrimões. A segunda é formada por uma pista de concreto, onde os atletas fazem suas manobras em rampas e paredes verticais. Esta modalidade é bem ampla e inclui vários estilos, como, por exemplo, o Bowl, especialidade de Pedro Barros. O Brasil terá três representantes no masculino e feminino em cada uma das modalidades. Serão, portanto, 12 skatistas brasileiros selecionados por meio do ranking mundial da temporada de 2019.

O catarinense luta para se manter no topo, mas ele mesmo avalia como grande sua chance de representar o Brasil nos Jogos de Tóquio-2020. Sua incerteza se deve ao impasse sobre a organização da entidade brasileira à frente do esporte. Pedro, assim como a maioria dos skatistas, quer que seja a Confederação Brasileira de Skate (CBSk), mas ainda há questões burocráticas impedindo que isso se legitime. Entretanto, um nome pode facilitar a desatar esse nó.

NOS TRILHOS – Bob Burnquist, um dos maiores skatistas de todos os tempos, acaba de ser eleito o novo presidente da confederação. “Bob é a melhor alternativa possível. Ele tem nome e bons relacionamentos. Tenho certeza de que o skate vai viver uma nova fase a partir do ano que vem”, defende o atleta.

Pedro Barros, no entanto, acredita que a modalidade vai continuar com sua cultura “underground”, na qual ele está inserido, mesmo após se tornar um esporte olímpico. “O Brasil era o País do samba. Hoje é o País do funk e também do pagode. Mas o samba nunca vai deixar de existir. Assim como vamos continuar tomando cervejinha e ouvindo rock and roll”, compara o skatista.

POLÊMICA – Uma questão burocrática atormentou os skatistas desde que a modalidade passou a fazer parte do programa olímpico. Inicialmente, foi decidido que quem representaria o skate seria a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP), filiada da Federação Internacional de Esportes Sobre Rodas (FIRS) e que cumpre os pré-requisitos estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

Muitos skatistas, entre eles Pedro Barros, não aceitaram ser representados por outra entidade e criaram a campanha #SomosTodosCBSk, que recebeu mais de 17 mil assinaturas. A CBSk é que pleiteia representar o esporte nos Jogos de Tóquio.

Para resolver o impasse, os dirigentes da FIRS decidiram mudar o nome da entidade para World Skate, que passou a ser responsável pelo gerenciamento de todas as modalidades do skate e patins. Com a fusão, a CBSk passou a ser filiada a World Skate e tentará novamente se filiar ao Comitê Olímpico do Brasil (COB).