Destaque da Flip, Veronesi é fã de Jorge Amado e não teme IA

SÃO PAULO, 15 JUL (ANSA) – Por Bruna Galvão – Convidado de honra da 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o escritor italiano Sandro Veronesi assegurou que não tem medo da concorrência da inteligência artificial (IA) e revelou a expectativa por visitar o Brasil, terra de Jorge Amado, especialmente agora que a seleção conta com um compatriota seu como treinador.   

“[Carlo] Ancelotti é um grande embaixador da Itália”, brincou Veronesi em uma entrevista à ANSA sobre sua participação inédita na Flip, que acontece de 30 de julho a 3 de agosto na cidade fluminense.   

O escritor integrará uma mesa sobre as “histórias da vida comum”, tema marcante de sua produção literária, que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil a partir de romances como “O Colibri” e “Setembro Negro”, ambos publicados pela Autêntica Contemporânea e muito bem recebidos pela crítica.   

A visita de Veronesi ocorre em um momento delicado para escritores, que vivem sob a crescente ameaça da concorrência da IA, mas o italiano garantiu não temer o avanço da tecnologia.   

“Não tenho medo da concorrência da IA, mas de uma tecnologia que poucos conhecem”, disse o autor nascido em Florença, na Toscana.   

Detentor dos principais prêmios literários da Itália, como o Strega e o Campiello, Veronesi confessou que inclusive já usou o Chat GPT para pesquisar sobre si mesmo. “Apareceram obras de [Andrea] Camilleri como se fossem minhas”, contou, em tom indignado. “Para onde vão esses erros?”, questionou.   

Aos 66 anos e pai de cinco filhos, incluindo dois adolescentes, Veronesi, nunca obrigou sua prole a ler. A metodologia consistia simplesmente em não interromper a própria leitura quando as crianças o chamavam. “Estou ocupado, estou lendo”, respondia aos filhos, despertando, assim, “curiosidade” neles. Como resultado, todos os seus filhos leem, incluindo os menores, nascidos em pleno auge das redes sociais.   

Na visão de Veronesi, o mundo digital tem pouco a ver com a decadência no número de leitores em alguns países, já que a literatura “sempre teve seu público bem definido”. “É um cenário complexo que também envolve a crise industrial no custo dos livros, que, na Itália, são vendidos por cerca de 20 euros [R$ 130]”, refletiu o escritor, definindo as redes sociais como um “mero passatempo que não exige muito”.   

Autor de dezenas de obras, Veronesi foi claro ao afirmar que “não gosta de contar histórias verdadeiras”, mas explicou que suas tramas são uma boa mistura de “inspiração e fatos da memória”.   

No caso de “Setembro Negro”, lançado há apenas dois meses no Brasil, o florentino não soube dizer “de onde veio” a narrativa sobre Gigio Bellanti, um garoto de 12 anos que amadurece em pleno verão italiano de 1972. “Estava no carro e, em duas ou três horas, me veio todo o romance à mente”, revelou.   

O escritor participará da Flip em 31 de julho e virá ao Brasil acompanhado de um dos filhos caçulas. “Tenho alta expectativa”, disse Veronesi, que se declarou um grande devorador de livros latino-americanos, a começar pelo baiano Jorge Amado, passando pelo colombiano Gabriel García Márquez, pelo peruano Mario Vargas Llosa e tantos outros. (ANSA).