As despesas militares globais tiveram em 2019 o maior aumento em dez anos, segundo um relatório do Instituto Internacional de Estudos para a Paz (SIPRI), que será publicado na segunda-feira (27).

Ao longo do ano passado, as despesas militares alcançaram 1,9 trilhão de dólares no mundo – um aumento de 3,6% em um ano, o mais importante desde 2010.

“O gasto militar alcançou seu maior nível desde o fim da Guerra Fria”, explica Nan Tian, pesquisador do SIPRI, à AFP.

O maior orçamento permanece o dos Estados Unidos, que aumentou 5,3% em 2019, a 732 bilhões de dólares (38% do cálculo mundial).

São seguidos pela China, com 261 bilhões de dólares (+5,1% em um ano), e pela Índia, com 71,1 bilhões de dólares (+6,8%).

O investimento militar chinês seguiu nos últimos 25 anos a curva do crescimento econômico do país. Mas esta tendência também reflete a ambição do gigante asiático de ter um “exército de classe mundial”, segundo Nan Tian.

“A China tem declarado abertamente que desejaria especialmente competir com os Estados Unidos como superpotência militar”, destaca.

O avanço chinês também explica a evolução da Índia, ressalta o relatório do SIPRI.

“As tensões e a rivalidade da Índia com o Paquistão e a China são alguns dos fatores determinantes do aumento do gasto militar”, segundo Siemon Wezeman, outro pesquisador do instituto, citado em um comunicado.

– Reconsiderar os gastos ante a COVID-19 –

Os cinco países que mais investem, inclusive Rússia e Arábia Saudita, representam juntos mais de 60% dos gastos militares totais.

A Alemanha, sétimo país depois da França, registra o maior avanço dos primeiros 15 primeiros da lista, com um aumento de 10% em 2019 (49,3 bilhões de dólares). Isto se deve, em parte, à percepção crescente de uma possível ameaça russa, segundo os autores do relatório.

Embora Nan Tian sustente que “o aumento dos gastos militares tenham se acelerado nestes últimos anos”, ele adverte que a tendência poderia se inverter por causa da pandemia do novo coronavírus, que sacode a economia mundial.

O mundo se encaminha para uma possível recessão e os governos terão que reconsiderar o gasto militar perante setores como o da saúde e o da educação.

“É possível que isto tenha um efeito real nos gastos militares”, declara.

A História mostra, no entanto, que uma redução do orçamento militar em um contexto de crise nunca dura muito, explica o pesquisador.

“Poderíamos ver uma diminuição dos gastos entre um e três anos e um novo aumento nos anos seguintes”, detalha.