Apesar da redução de registros em 28% em julho, na comparação com o mesmo mês de 2019, os alertas de desmatamento da Amazônia nos últimos 12 meses devem superar em 34% o mesmo período do ano passado. Os números serão anunciados nesta sexta-feira, 7, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas foram em parte adiantados pelo vice-presidente Hamilton Mourão em postagem nas redes sociais. Os alertas do sistema Deter de monitoramento devem fechar em mais de 9.170 km² para o período de agosto de 2019 a julho de 2020, ante 6.844 km² observados nos 12 meses anteriores.

O cálculo foi feito pelo Estadão com base em um gráfico que Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, publicou em sua conta do Twitter quarta. Responsável pela Operação Verde Brasil 2, que combate desde maio crimes ambientais na Amazônia Legal, ele destacou o primeiro número positivo de 2020. Desde o ano passado, o governo é cobrado internacionalmente para reduzir o desmatamento.

Por 14 meses consecutivos – desde maio do ano passado -, os alertas feitos pelo Deter foram maiores do que os registrados nos mesmos meses do ano anterior. Julho passado, segundo Mourão, foi o primeiro a trazer alguma queda. Segundo o gráfico divulgado pelo vice-presidente, o mês teve alertas de desmatamento de 1.622,64 km2, ante 2.255,33 km2 em julho de 2019. “A diminuição do desmatamento no #BiomaAmazônia ficou caracterizado pelo início da inversão de tendência como mostra o gráfico abaixo, revelando resultados positivos da #OperaçãoVerdeBrasil2”, escreveu Mourão no post.

Apesar da melhora, trata-se do segundo pior julho da série histórica do Deter, de cinco anos. Julho do ano passado teve o pior dos registros, considerado catastrófico por especialistas – 200% acima do pior valor até então (julho de 2016).

Procurado pela reportagem, o Inpe não confirmou nem negou os dados e disse que mantém o calendário de divulgação nesta sexta. Mas explicou que órgãos de fiscalização, como o Ibama, o ICMBio e as secretarias estaduais, além de dirigentes, têm acesso diário aos dados para ajudar na fiscalização.

Medidas emergenciais. O pesquisador Raoni Rajão, da UFMG, que recentemente rastreou quanto do desmatamento ilegal em propriedades privadas na Amazônia pode estar ligado a soja e gado exportados, afirmou que, apesar de o número de julho ainda ser muito alto, pode representar “uma quebra de tendência do aumento constante” dos últimos meses. “Mais isso ainda não significa que está sob controle. Não é uma vitória. Uma pequena batalha foi ganha, mas tem agora de aprofundar as ações, engajar de maneira mais séria.”

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Para outros especialistas em Amazônia, a situação preocupa. “Confirmando esses números, o Inpe estará mostrando que o desmatamento está fora de controle, que é o que vemos todos os dias”, afirma Márcio Astrini, secretário executivo da rede Observatório do Clima. “É uma situação muito complicada, porque em outros momentos de grandes crises na Amazônia, os governos procuraram agir. Na década de 1990, o governo Fernando Henrique aumentou o tamanho da Reserva Legal (área de propriedades privadas que tem de ser protegida) para 80% na Amazônia. Nos anos 2000, foi criado o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).”

Ontem, um grupo de 62 organizações da sociedade civil, do qual o Observatório do Clima faz parte, enviou uma carta para o Congresso brasileiro recomendando cinco medidas emergenciais para conter a crise aguda da Amazônia.

O grupo sugeriu que seja adotada uma moratória de cinco anos para o desmatamento na Amazônia; o endurecimento das penas a crimes ambientais; a retomada imediata do PPCDAm; a demarcação de terras indígenas, quilombolas e criação, regularização e proteção de Unidades de Conservação; além da reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai.

Mourão

A vice-presidência foi procurada pela reportagem para fornecer os dados completos e para comentar a alta nos 12 meses, mas não se manifestou até 20 horas de ontem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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