Na linha de frente da luta contra o desmatamento na Amazônia, a França tem, na Guiana, sua própria parcela da floresta, que, mais do que pelo fogo, é ameaçada pelo garimpo ilegal de ouro.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fez dos incêndios que atualmente devastam a Floresta Amazônica, particularmente no Brasil, uma das prioridades da cúpula do G7 em Biarritz.

“Estamos todos envolvidos. A França, provavelmente mais do que outros em torno desta mesa, já que somos amazônicos” com a Guiana, disse ele.

Localizada no leste da Amazônia, a Guiana é 98% coberta por floresta, incluindo o maior parque da União Europeia, o Parque Amazônico, cujos ecossistemas florestais sequestram mais de um bilhão de toneladas de carbono.

Enquanto o desmatamento é acusado de ser a principal causa dos incêndios atuais, a Guiana está bastante preservada nesse sentido.

De acordo com a avaliação de 2017 da União Internacional para a Conservação da Natureza, “ao contrário de outras regiões da Bacia Amazônica, a perda de habitat florestal permanece baixa na Guiana, estimada em menos de 1% entre 2001 e 2015, com cerca de 500 quilômetros quadrados desmatados”.

“Estamos perdendo terreno com o garimpo ilegal de ouro, com projetos de mineração, com o projeto de uma segunda barragem hidrelétrica. Apesar de tudo, a floresta está lá, em quase toda parte, e estou profundamente convencido de que ela é única no planeta”, disse à AFP Mael Dewynter, membro do Conselho Científico Regional do Patrimônio Natural da Guiana (CSRPN).

“Nós, os guianenses, somos privilegiados”, completou.

“O desmatamento maciço para conversão de terras e a degradação florestal para a indústria madeireira têm impactos mínimos na floresta da Guiana”, acrescenta o Centro de Estudos da Biodiversidade Amazônica em Cayenne.

Segundo o Escritório Nacional de Florestas (ONF), que administra quase um terço do território, “a artificialização das terras está concentrada em uma faixa costeira”.

“As savanas, florestas montanhosas” e as áreas circundantes do rio Maroni também são perturbadas em menor grau, diz o presidente do CSRPN, Olivier Tostain.

Em um artigo, o grande conselho dos povos ameríndios e bosquímanos da Guiana lembrou que “o fogo não é o único perigo que ameaça, ou destrói, a Amazônia. O extrativismo (exploração industrial da natureza) tem sua maior participação de responsabilidade”.

– 1.000 campos de futebol –

Ele lamenta, como o coletivo “Questão de Ouro”, que reúne associações ambientais opostas ao grande projeto de mineração Montagne d’Or (que o governo finalmente abandonou), que Emmanuel Macron “tenha destinado 360.000 hectares de floresta para empresas multinacionais de mineração na Guiana”.

O senador do LREM (A República em Marcha, o partido de Macron) da Guiana Georges Patient, favorável ao garimpo legal do ouro, alega que “360.000 hectares representam apenas 4% do território da Guiana”.

“A Guiana é um território em grande dificuldade econômica, que vive em uma economia baseada no garimpo do ouro. Devemos ser capazes de mudar esse modelo econômico”, disse nesta sexta a ministra dos Territórios Ultramarinos, Annick Girardin, em entrevista à rádio Europe 1.

Desde 2003, o número total de floresta destruída na Guiana Francesa por exploração do ouro – legal, ou ilegal – foi de 29.000 hectares, explicou em junho à AFP Jean-Luc Sibille, do Escritório Nacional de Florestas (ONF).

Segundo estimativas, para mais de 11 toneladas de ouro extraído a cada ano (10 toneladas de ouro do tráfico, 1 a 1,5 toneladas declaradas legalmente), o equivalente a mil campos de futebol foi arrasado. A atividade ilegal também ameaça as populações ribeirinhas que vivem da pesca, com consequências para seus recursos alimentares.

“Não podemos ouvir Macron dizer ‘devemos salvar a biodiversidade amazônica’, enquanto continua, persiste e sinaliza que, na Guiana, podemos fazer e montar uma indústria de mineração industrial”, argumenta o secretário regional da Guiana Ecologia, Michel Dubouillé.

“Se consideramos que toda a humanidade precisa da Amazônia, é preciso que se ajude esses países a mantê-la”, insiste o senador Georges Patient, favorável a um “fundo internacional contra incêndios florestais e para o reflorestamento” na Amazônia.