Forçados a fugir dos combates no Iêmen pela segunda vez em sete anos, Yehya Hayba e sua família se protegem do frio do inverno em uma tenda em um campo de refugiados no norte do país.

Yehya Hayba, sua esposa e seus sete filhos fugiram para o campo Al-Sumya, a leste da cidade de Marib, o último reduto do governo no norte do Iêmen, após a intensificação dos combates na área.

Mais seis famílias moram na barraca, num total de 35 pessoas que dormem em camas improvisadas de palha.

“Estamos no deserto. Não há serviços humanitários, escolas, hospitais ou qualquer coisa”, lamenta Hayba, de 39 anos, descrevendo a situação no acampamento.

Al-Sumya, com suas barracas improvisadas, tem um fluxo constante de pessoas deslocadas, com centenas chegando a cada mês, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O acampamento, com poucos recursos, é testemunha de um conflito que obrigou milhões de pessoas a deixar suas casas, no que a ONU classificou como a pior crise humanitária do mundo.

“Já fomos deslocados duas ou três vezes”, conta Ali Abdullah, outro habitante do campo.

“Não recebemos cobertores ou colchões e o frio vai nos matar”, teme.

“Sofremos muitas coisas aqui. Não podemos colocar uma cortina para ter privacidade e não podemos nem mesmo ter um banheiro adequado (…) Três ou quatro crianças dividem cada cobertor”, explica.

– “Não tem nada” –

Os rebeldes houthis, apoiados pelo Irã, lançaram um ataque à cidade estratégica de Marib em fevereiro e intensificaram sua campanha em setembro.

Apesar dos bombardeios aéreos da coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita, os houthis afirmam que aumentaram o cerco a Marib, com combates no norte, oeste e sul da cidade.

Angela Wells, porta-voz da OIM, informou que havia cerca de 60 famílias em Al-Sumya este mês, quando cerca de 1.200 famílias chegaram.

Ela indicou que a OIM começou a oferecer serviços no acampamento, como suprimentos de emergência, água potável e a construção de latrinas e tanques de água.

Mas a preocupação aumenta à medida que o inverno avança. “Com a chegada dos meses de inverno, estamos preocupados que muitos não tenham roupas, cobertores e outros bens básicos de que precisam para estar seguros e aquecidos, especialmente aqueles que estão em abrigos improvisados que não estão equipados para proteger as pessoas”, disse Wells à AFP.

Marib tinha entre 20 mil e 30 mil habitantes antes da guerra, mas sua população cresceu para centenas de milhares quando as pessoas começaram a fugir para a cidade devido à sua relativa estabilidade.

Mas com 139 campos de deslocados na província, com cerca de 2,2 milhões de pessoas, muitos civis deslocados estão de volta à linha de fogo.

Mais de 45 mil pessoas tiveram que deixar suas casas devido aos combates nos últimos dois meses na província de Marib, de acordo com a OIM.

No domingo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmou que ajuda mais de 7.500 pessoas no acampamento com água potável, kits de higiene e latrinas portáteis.

Ali al-Habbash, supervisor do acampamento Al-Sumya, destaca que as pessoas continuam chegando. “Não há outro abrigo, então os recebemos neste acampamento com as outras famílias, e eles se amontoam uns em cima dos outros”.

“Não há abrigo adequado, não há lugar para dormir ou cobertores suficientes… Não tem nada”, conclui.