A invasão russa da Ucrânia fez o número de deslocados forçados superar pela primeira vez os 100 milhões de pessoas em todo o mundo, informou a ONU nesta segunda-feira (noite de domingo, 22, no Brasil).

“O número de pessoas forçadas a fugir de conflitos, da violência, dos atropelos aos direitos humanos e da perseguição superou pela primeira vez a assombrosa marca de 100 milhões, impulsionada pela guerra na Ucrânia e outros conflitos mortais”, estimou a Acnur, agência das Nações Unidas para os Refugiados.

“A cifra de 100 milhões é alarmante, preocupante e instrutiva. É um número ao qual nunca se deveria ter chegado”, disse o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.

O número deve sacudir o mundo para pôr fim aos conflitos, sugeriu o Acnur em um comunicado.

Segundo o organismo, no fim de 2021 houve cerca de 90 milhões de pessoas deslocadas, sobretudo devido à violência em Etiópia, Burkina Faso, Mianmar, Nigéria, Afeganistão e República Democrática do Congo.

No caso da Ucrânia, invadida pelas tropas russas em 24 de fevereiro, mais de 8 milhões de pessoas tiveram que fugir para outras regiões do país. Além disso, mais de seis milhões de refugiados cruzaram as fronteiras com outros países.

Antes do conflito, a Ucrânia tinha 37 milhões de habitantes nos territórios controlados por Kiev, o que exclui a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e as regiões do leste controladas pelos separatistas pró-russos.

– “Sofrimento humano sem precedentes” –

Para contextualizar o dado de 100 milhões divulgado na segunda, a Acnur destaca que esta cifra representa mais de 1% da população mundial e que só 13 países têm uma população superior a este número.

O dado inclui refugiados, solicitantes de asilo e mais de 50 milhões de deslocados internos.

“Para inverter esta tendência, a única resposta é a paz e a estabilidade, para que gente inocente não seja obrigada a escolher entre o perigo de casa ou a precária fuga e o exílio”, disse Grandi.

A Acnur divulgará os dados completos dos deslocamentos forçados em 2021 em seu relatório anual em 16 de junho.

Mais de dois anos depois do início da pandemia de covid-19, ao menos 20 países continuam negando o acesso ao asilo a pessoas que fogem de conflitos, da violência e da perseguição, usando como desculpa medidas adotadas para combater a disseminação do vírus.

Na sexta-feira, Grandi pediu-lhes que suspendessem este tipo de restrições, que contrariam um direito humano fundamental.

Um relatório de duas ONGs, o Centro de Monitoramento dos Deslocamentos Internos (IDMC, na sigla em inglês), com sede em Genebra, e o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), publicado em 19 de maio, registra quase 60 milhões de deslocados internos no mundo em 2021, muitos deles vítimas de catástrofes naturais.

“Somos testemunhas de uma pandemia sem precedentes de sofrimento humano”, afirmou o secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), Jan Egeland, que denunciou a falta de ação dos líderes políticos que “traem os mais desfavorecidos do mundo em um nível nunca antes observado”.

Egeland alertou que o sistema de ajuda internacional está sobrecarregado e não poderá responder “sem recursos adicionais” às necessidades de 100 milhões de pessoas.