Yarden Gil abre uma grande porta metálica de acesso ao jardim de infância onde trabalha. Ela é uma das milhares de pessoas deslocadas da zona fronteiriça norte de Israel com o Líbano, devido à escalada de violência entre o Exército israelense e o movimento islamista pró-iraniano Hezbollah.

O local também serve como abrigo antiaéreo subterrâneo quando sirenes de alerta soam devido ao lançamento de foguetes do Hezbollah libanês.

A professora de 36 anos e sua família são procedentes do kibutz Yiftah, a menos de um quilômetro da fronteira com o Líbano, mas agora moram em um quarto de hotel perto da cidade de Tiberíades, às margens do mar da Galileia, a mais de 50 km de casa.

“É difícil ver o futuro. O governo não faz o suficiente para que possamos voltar para casa e estar seguros”, lamenta.

A guerra em Gaza, desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro, provocou um aumento dos confrontos na fronteira israelense-libanesa entre o Exército israelense e o Hezbollah – aliado do movimento palestino – que já protagonizaram um conflito mortal em 2006.

Desde então, dezenas de comunidades no norte de Israel tornaram-se cidades fantasmas.

Onze civis morreram do lado israelense, segundo o Exército, e 93 civis morreram no Líbano, segundo uma contagem da AFP.

Na última terça-feira, Israel disse ter aprovado planos para uma ofensiva no sul do Líbano, enquanto o líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, respondeu que nenhum lugar em Israel estaria a salvo em caso de guerra.

Enquanto Israel se concentra na guerra em Gaza, as dezenas de milhares de comunidades deslocadas do norte que se abrigam em hotéis querem apenas voltar para casa.

“Nossa nova realidade é a instabilidade. Temos que aprender a aceitá-la, superá-la e conviver com ela” afirma Iris Amsalem, de 33 anos e mãe de dois filhos.

Originária da comunidade fronteiriça de Shomera, ela está atualmente hospedada em um hotel na Galileia. “Apenas paz e segurança”, acrescenta.

– Abandonados pelo governo –

Para passar o tempo, Deborah Fredericks, uma aposentada de 80 anos, pratica um jogo de tabuleiro perto de uma piscina cercada por palmeiras em um hotel cinco estrelas onde reside com centenas de outras pessoas deslocadas.

“É muito curioso estar no meio de uma guerra, mas sentir que estou de férias”, diz ela. “Quero ir para casa, mas sei que por enquanto não será possível. Não podemos fazer nada a respeito”, detalha.

Outros, como Lili Dahn, uma moradora de Kiryat Shmona, de 60 anos, sentem que foram abandonados pelo governo de Benjamin Netanyahu, que parece dar prioridade à guerra em Gaza. “Ninguém se comunica conosco, ninguém vem nos ver”, lamenta.

Segundo Yarden Gil, os deslocados tiveram que criar o seu próprio sistema escolar para os seus filhos depois de fugirem. Desde então, alguns moradores tiveram que voltar para apagar incêndios provocados pelo Hezbollah, já que os bombeiros não querem se aproximar da fronteira.

“O governo é responsável pela nossa segurança e espero que se interesse mais sobre o que acontece conosco”, afirma.

No domingo, Netanyahu declarou que “após o fim da fase intensa” na Faixa de Gaza, o Exército estaria “em condições de redistribuir certas forças para o norte”.

“Faremos isso principalmente para fins defensivos, mas também para que os habitantes (deslocados) voltem para as suas casas”, frisou.

Sarit Zehavi, um ex-oficial de inteligência do Exército israelense – que vive a nove quilômetros da fronteira – diz que o seu maior medo é um cessar-fogo que permitiria ao Hezbollah “preservar as suas capacidades e lançar o próximo massacre” como o Hamas.

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