26/03/2020 - 6:53
Informações equivocadas sobre o novo coronavírus na internet e nas redes sociais podem ser devastadoras e inclusive provocar mortes, com a divulgação de remédios milagrosos tóxicos e recomendações sobre a interrupção de tratamentos médicos.
Os cientistas iniciaram uma corrida contra o tempo para encontrar um tratamento eficaz ou uma vacina contra uma pandemia que já matou mais de 20.000 pessoas.
Os boatos mais insensatos, no entanto, se propagam na internet, alimentando a confusão.
As consequências podem ser trágicas: no Irã, um dos países mais afetados, mais de 210 pessoas morreram por beber álcool adulterado depois que circulou na internet o boato de que isto poderia tratar ou evitar a COVID-19, informou a agência oficial Irna.
Os perigosos falsos remédios pesquisados pela AFP incluem o consumo de cinzas vulcânicas e lâmpadas UV ou alvejantes, que de acordo com as autoridades de saúde podem ser muito prejudiciais.
Outro remédio que “mata o coronavírus”, segundo mensagens enganosas nas redes sociais, é beber prata coloidal (formada por nanopartículas de prata).
“Estou preparando prata coloidal. Tenho asma, isto funciona de verdade? (…) Ajuda se eu tomar uma colher de chá por dia?”, pergunta Michelle em um grupo público do Facebook, ao lado de uma foto de uma jarra de água com uma haste de metal dentro.
Os efeitos colaterais da ingestão de prata coloidal podem incluir uma descoloração da pele e a baixa absorção de alguns medicamentos, como os antibióticos, afirma o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
Mas isto não desanima algumas pessoas. Um australiano que diz estar acostumado a comprar a mistura contou à AFP que o produto “está esgotado” em sua cidade, mas antes do vírus ele sempre conseguia adquiri-lo.
Consumir cocaína ou beber um pouco de alvejante também são alguns dos conselhos que circulam na internet. “Não, a cocaína NÃO protege contra # COVID-19”, tuitou o governo francês em resposta.
– Um golpe para os negócios –
As compras estimuladas pelo pânico deixam vazias as prateleiras dos supermercados em vários países, mas alguns comerciantes e agricultores indianos tiveram o problema contrário: muitas pessoas evitam alguns produtos devido a informações falsas.
Alguns comerciantes de Nova Delhi relataram à AFP que adquiriram produtos fabricados na China, como armas de brinquedo, perucas e outros acessórios antes do Holi, o festival das cores que foi celebrado no início do mês.
“Mas a informação equivocada sobre os produtos chineses, de que poderiam transmitir o coronavírus, provocou uma queda nas vendas de quase 40% na comparação com o ano passado”, afirmou Vipin Nijhawan, da Associação de Brinquedos da Índia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) garantiu que o vírus não dura muito em superfícies inanimadas, o que significa que é pouco provável que os produtos importados possam transmitir o coronavírus mesmo que estejam contaminados.
– Remédios para o coração –
A rápida divulgação das informações on-line faz com que os pacientes mais ansiosos passem por riscos desnecessários quando escutam os cientistas discutindo sobre teorias ainda não comprovadas.
A confusão foi provocada por uma série de cartas e artigos teóricos publicados em revistas científicas sobre se alguns tipos de medicamentos para o coração podem aumentar a possibilidade de desenvolver uma forma grave de COVID-19.
Isto levou as autoridades de saúde de toda Europa e Estados Unidos a recomendar aos pacientes cardíacos, que já têm um risco maior de contrair a doença, que continuem tomando os medicamentos.
Carolyn Thomas, que coordena um blog para mulheres que sofrem doenças cardíacas, afirmou que dezenas de leitores entraram em contato para pedir conselhos depois que viram mensagens no Twitter com advertências contra os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) e os bloqueadores de receptores de angiotensina.
“Até consultar meu cardiologista, continuo tomando os remédios, mas questiono se aumentam minha vulnerabilidade a contrair o vírus”, afirma Thomas, que está em confinamento em sua casa no Canadá.
“Tenho medo de tomar e tenho medo de parar”, explica.
O professor Garry Jennings, assessor médico da Fundação do Coração da Austrália, afirma que os artigos “foram baseados em uma série de fatores que são polêmicos” e alerta que se os pacientes param de tomar o medicamento, eles podem sofrer um infarto e morrer.
“Na ausência de outras evidências e sabendo que estes medicamentos são benéficos, não é uma boa ideia deixar de tomar”, enfatiza.
Nos Estados Unidos um homem morreu depois de ingerir fosfato de cloroquina. Ele ouviu o presidente Donald Trump elogiar a cloroquina como um possível “remédio, um presidente dos céus”, e tomou uma grande quantidade de um produto de limpeza de aquários.