09/06/2016 - 14:46
Ao contrário de muitos youtubers conhecidos, que se surpreenderam ao alcançar a fama e números de fãs inimagináveis, o Desimpedidos, canal que mistura futebol e zoeira, tem uma história diferente e muito bem pensada.
Hugo Gloss estreia como apresentador ‘legendando’ vídeos engraçados
No próximo dia 12, o canal completa três anos de existência. Surgiu em 2013 para fazer a cobertura da Copa das Confederações de uma maneira inovadora, engraçada e com uma linguagem familiar aos fãs. É o que explica Rafael Grostein, diretor comercial e fundador do canal: “a ideia era justamente cobrir um espaço, representar os fãs do futebol, que não se identificam com o cara de gravata que faz a parte jornalística. Eles falam da brincadeira, da zoação entre times”.
Em três anos, são 3 milhões de curtidas no Facebook, 2 milhões de inscritos no canal, 720 mil seguidores no Instagram, e 380 mil, no Twitter.
As caras principais do Desimpedidos, atualmente, são Fred e Bolívia – que está sempre mascarado -, mas as cabeças por trás da criação do projeto, realizado pela produtora NWB, são Rafael e André Barros, diretores comercial e executivo do canal.
“O insight para criar o canal foi aproveitar as redes sociais, que são um lugar de conversa, em que as pessoas falam sobre diversos assuntos. Futebol é um assunto importante no Brasil, que gera muita conversa”, explica Rafael. O Desimpedidos começou no YouTube e, com o tempo, migrou para outras redes.
Fred e Bolívia têm história diferentes no Desimpedidos. Nenhum dos dois foi pensado para estar a frente das câmeras desde o começo. Uma das primeiras caras do programa foi Felipe Andreoli, que deixou o projeto para trabalhar em uma emissora. Com a lacuna, os criadores do projeto decidiram não procurar um substituto famoso, mas alguém entre os fãs. “Pensamos, na hora de contratar alguém, não em um apresentador, em procurar na televisão, mas em olhar para os nossos fãs e ver se havia alguém bom que pudesse representá-los”, explica Rafael.
Para a seleção, foram feitas várias provas e, em 2015, Fred venceu e passou a integrar a equipe dos Desimpedidos. O apresentador é formado em jornalismo e, quando foi contratado, fazia trabalhos pontuais, entre eles, um canal no YouTube com um estilo similar ao que trabalha atualmente, o Futebol nas Quatro Linhas.
“Quando abriu a vaga para apresentador aqui, os meus vídeos que eu já havia feito no Futebol nas Quatro Linhas me ajudaram muito, porque eu tinha familiaridade com a câmera e uma certa intimidade com o YouTube”, disse Fred em entrevista ao E+, do jornal O Estado de S. Paulo.
Bolívia, originalmente, foi contratado pela NWB para ser produtor de conteúdo do Desimpedidos, mas, por acaso, ganhou uma segunda ocupação. “Eu podia contar uma história muito mais engraçada, porque a de verdade não tem muita graça”, afirma entre risadas. Um dia, na urgência de gravar um dos programas do canal, ele sugeriu personificar a figura do “editor boliviano”, uma piada que costumavam fazer durante os vídeos.
“Eu falei que poderia até fazer, mas não queria aparecer. Aí essa máscara estava por aqui, tinha um gorro, os óculos são para tampar os buracos e pus esse cabelinho atrás, que não é meu. Aí eu fiz uma vez, fiquei quietinho, tímido, e eu fui achando legal fazer, a molecada gostou e eu também”, relembra.
Atualmente, tanto Fred quanto Bolívia são produtores de conteúdo do canal, mas contam com a ajuda dos fãs. “Criamos o canal com essa ideia, de existir conversa. Então, estimulamos muito a cocriação, isso faz parte do nosso DNA”, explica Rafael. Os apresentadores contam que, especialmente no programa Fred +10, os internautas contribuem com conteúdo.
Um dos objetivos do Desimpedidos é sempre engajar seu público. Eles criam missões, como, por exemplo, ajudar o jogador Wendell Lira a ganhar o Prêmio Puskas, de gol mais bonito do ano. “A audiência abraça esse tipo de história porque eles querem sentir que fazem parte da turma. Estamos sempre de olho para colocar os fãs como protagonistas”, afirma Rafael.
Bolívia também cita momentos em que convidaram fãs a participarem de grandes eventos do futebol, como a partida de despedida de Alex, o último jogo de Paulo Baier e até a Copa América do Chile.
O resultado é positivo: quando aparecem haters que reclamam do canal, eles nem precisam responder. Esse papel é dos fãs. “Quando essas pessoas entram, temos um exército de seguidores que nos defende. E isso é um grande trabalho nosso, de criar uma comunidade forte, que entende o que estamos fazendo”, diz André.
Crescimento
O boom aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014. “Foi a primeira Copa em que o Facebook tinha uma base importantes de usuários, então, começamos a criar um monte de memes com histórias que aconteciam. O Brasil inteiro estava de olho nisso e conseguimos pegar carona. Foi um momento em que ganhamos bastante alcance”, fala o diretor comercial.
No entanto, esse crescimento não foi surpreendente para eles. De acordo com Rafael, tudo é resultado do trabalho que eles fazem no dia a dia. “Quanto mais você faz, mais você aprende. E vê o que dá certo e o que dá errado. Aqui é uma empresa, cada um tem suas metas, é um pouco diferente do que falar com youtuber, como o Fred era, de ‘vai que dá certo e aí vira meu trabalho’, a ideia já era conseguir construir um negócio com bastante gente acompanhando.”
André afirma que, no começo, havia muita pressão para que o canal se expandisse mais rápido. “Tinha uma pressão de crescimento. Para nós foi planejado, mas para quem está fora da operação é esse ‘tem que crescer, vai, vamos lá’. O que foi bom, porque nós tínhamos que nos policiar e trabalhar cada vez mais para alcançar as expectativas.”
Zoeira sem limite. É só assistir um vídeo de Fred que já se descobre quem é seu ídolo do futebol: Cristiano Ronaldo. Questionado se o jogador aceitaria as brincadeiras que o apresentador faz, não soube responder, mas contou que a mídia portuguesa viu com maus olhos. “Eles acharam que a gente tava fazendo chacota do Cristiano Ronaldo, mas não era. No fim é até uma grande homenagem por eu ser muito fã dele”, revelou.
Na opinião de Bolívia, eles tiram sarro do astro português, e de vários outros jogadores, mas, de acordo com ele “não de um jeito pejorativo. Nunca ficamos sabendo que um jogador ficou bravo conosco”, afirma. Kaká, que é sócio do Desimpedidos, é uma ponte entre os jogadores e equipe e repassa que eles recebem bem as brincadeiras.
“O futebol no meio tradicional é quadrado porque as pessoas têm medo de invadir o espaço do jogador. As emissoras têm medo de falar alguma coisa que ofenda os caras e não tenha mais acesso a eles. O que nós conseguimos fazer foi uma forma de brincar com essas pessoas, não sobre elas”, opina André. O diferencial do Desimpedidos, para Rafael, é não cornetar, não falar do desempenho do jogador.
No meio das brincadeiras, tão recorrentes no canal, é possível notar algumas piadas homofóbicas. “Tem muita coisa que está na boca dos fãs, nós fazemos o trabalho de processar e transformar, isso faz parte do DNA do canal desde que ele nasceu e é por isso que ele faz tanto sucesso. Agora, tem outro ponto: o negócio está mudando mesmo, é um processo gradual e lento”, diz Rafael e complementa que, aos poucos, o Desimpedidos tenta se transformar, e exemplifica com o fato de que, no início, os vídeos eram mais pesados.
“Claro que nós vamos adaptando a linguagem para que não fique jocoso, ofensivo. Isso nós também vamos aprendendo”, afirma André.