Designers ucranianos expõe em Milão e preservam herança cultural

Móveis desenhados pela companhia ucraniana Noom expostos no Salão do Móvel de Milão, em 6 de junho de 2022
Móveis desenhados pela companhia ucraniana Noom expostos no Salão do Móvel de Milão, em 6 de junho de 2022 Foto: AFP

Apesar das bombas que caem sobre a Ucrânia, designers do país devastado pela guerra expõe suas peças no Salão do Móvel de Milão, para defender seu patrimônio cultural saqueado pelo exército russo, que destrói museus, teatros e galerias de arte.

“Não é uma guerra entre Ucrânia e Rússia, implica todo o mundo, é a guerra entre a democracia e o imperialismo” declarou à AFP a designer ucraniana Victoria Yakusha, de 39 anos.

Sua exposição “Chornozem” (“adubo” em ucraniano) foi um dos destaques do evento paralelo “Fuorisalone”.

Através de seu mobiliário contemporâneo, de estilo original e minimalista, esta grande figura do design ucraniano relata a história de tradições ancestrais e técnicas artesanais de seu país das quais ela extrai sua inspiração.

– Comoção –

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, “a comoção foi enorme, não conseguia acreditar. Todos meus pensamentos estavam com minha família no Donbass (…)” afirmou.

No entanto, retomou sua “missão” de “mostrar ao mundo a criatividade e a beleza da cultura ucraniana e afirmar assim a identidade” de sua terra natal frente à Rússia.

Sua marca, Faina, nasceu com a revolução pró-europeia de 2014 que teve como epicentro a praça Maidan em Kiev e levou à queda de um presidente pró-russo.

Outra jovem designer, Kateryna Sokolova, de 38 anos, acompanhada por seu bebê de onze meses e por seus pais, saiu de Lviv, no oeste da Ucrânia, para expor sua marca Noom no Superstudio Più em Milão.

Quando os mísseis começaram a cair sobre a capital Kiev, “dormimos durante uma semana no estacionamento subterrâneo de nosso prédio”, antes de fugir de carro até Lviv, próximo à fronteira com a Polônia, relatou.

Após uma pausa forçada de dois meses, Kateryna Sokolova e seu sócio Arkady Vartanov retornaram ao trabalho para evitar que “o design ucraniano fosse apagado do mapa do mundo”.

Inspirada no pintor ucraniano Kazimir Malevitch, cartunista e artista abstrato do século XX, as obras de Kateryna reproduzem suas formas geométricas e de uma só cor.

Uma das principais peças de sua exposição é um sofá acolchoado de espuma e coberto por um tecido de lã, com uma estampa que celebra o centenário do Bauhaus, corrente artística fundada em 1919 por Walter Gropius na Alemanha.

Mesas baixas, esculpidas em aço, com desenhos feitos à mão que remetem a ondas do mar, também são destaques de sua coleção.

Para Kateryna Sokolova, “esta guerra é como o retorno de Stalin. Queremos evitar a qualquer preço voltar a nos submeter à União Soviética, queremos preservar a cultura ucraniana”.