Design: mostra sobre cadeiras joga luz sobre a produção autoral brasileira

a poltrona Sobreiro, do Estúdio Campana
A poltrona Sobreiro, do Estúdio Campana Foto: Fernando Laszlo/Divulgação

A exposição “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas” não se limita a uma mostra de design. A iniciativa amplia o olhar sobre a produção autoral brasileira e democratiza o acesso à cultura do design e da arquitetura, evidenciando o mobiliário como expressão de identidade, funcionalidade e experimentação estética.

Idealizada pelos designers e empreendedores Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, a mostra integra a programação como um dos eventos âncora do DW! Semana de Design de São Paulo 2025 e acontece de 10 a 23 de março. Com curadoria da arquiteta Carolina Gurgel e consultoria da pesquisadora e crítica de design Adélia BorgesUm Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas apresenta um recorte expressivo do design nacional, reunindo cerca de 50 cadeiras que transitam entre tradição e inovação. A seleção curatorial destaca a produção contemporânea dos últimos 20 anos (2005-2025), reafirmando a importância da cadeira como um dos objetos mais icônicos do design e da cultura material da humanidade.

A edição de 2025 amplia ainda mais a diversidade da produção brasileira, reunindo peças de 11 estados diferentes e apresentando 29 designers que não participaram da edição anterior. A mostra reforça seu compromisso em revelar novas perspectivas e abordagens no design, destacando a constante renovação e experimentação no setor. O recorte curatorial destaca a produção contemporânea dos últimos 20 anos (2005-2025), reafirmando a importância da cadeira como um dos objetos mais icônicos do design e da cultura material da humanidade.

Entre os designers premiados e de reconhecimento internacional, estão Humberto Campana, do Estúdio Campana, referência global com peças nos acervos do MoMA e Centre PompidouPaulo Mendes da Rocha, ícone da arquitetura e do design brasileiro, reconhecido mundialmente pelo seu pensamento inovador e pela contribuição para a identidade do mobiliário nacional; Hugo França, pioneiro na reutilização de madeira, com obras em coleções e exposições internacionais; Cláudia Moreira Salles, nome consolidado no design brasileiro, com uma trajetória marcada pela precisão técnica e pela valorização dos materiais; e Juliana Vasconcellos, destaque no design contemporâneo, cuja presença global reforça a força criativa do Brasil no cenário internacional.

Entre os estúdios consolidados no Brasil e com presença crescente no exterior, fazem parte da exposição o Metro Objetos, representado por Gustavo Cedroni e Martin Corullon; além de Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, cujos trabalhos exploram novas narrativas e diálogos entre forma, ergonomia e identidade cultural.

O evento também evidencia uma nova geração de talentos, criadores que vêm expandindo as possibilidades do design nacional por meio da experimentação material e da exploração de novos conceitos para o mobiliário contemporâneo. Vinícius Schmidit investiga o uso do bambu, enquanto Luiz Solano inova com a aplicação do acrílico em suas criações. Assimply propõe um olhar sustentável ao integrar resíduos na concepção de suas peças. Novidário apresenta um projeto inovador utilizando placas feitas a partir de tampas de garrafa, explorando novas possibilidades para o reuso de materiais. Luisa AttabLeo FerreiroAndré Grippi Desyree Niedo também integram esse grupo de jovens designers que exploram novas abordagens, com soluções que equilibram técnica, materialidade e função. Além disso, alguns desses nomes são residentes da Galeria Metrópole, reforçando a sinergia entre criação e território.

Design e cultura

Poucos objetos carregam tanto significado quanto uma cadeira. Esse elemento essencial desafia os designers tanto na estética quanto na ergonomia, exigindo um equilíbrio entre forma, função e inovação. Ao longo dos séculos, as cadeiras têm refletido o espírito de cada época e sociedade, incorporando avanços tecnológicos, transformações culturais e novas concepções estéticas. Muito além de sua função utilitária, elas simbolizam estilo de vida, pertencimento e relações sociais, acompanhando a evolução das formas e dos materiais.

No design moderno, peças icônicas como a Thonet No. 14 (1859), a Barcelona de Mies van der Rohe (1929) e a Eames Lounge Chair (1956) consolidaram-se como referências atemporais, traduzindo funcionalidade, conforto e inovação. Como observam Charlotte & Peter Fiell, autores do livro 1000 Chairs, “a cadeira é o artefato da era moderna mais desenhado, estudado e apreciado, tornando-se um elo entre estética, ideologia e sociedade”.

No Brasil, a produção modernista trouxe contribuições marcantes, consolidando uma linguagem autêntica e representativa do mobiliário nacional. A Poltrona Mole (1957), de Sergio Rodrigues, redefiniu a estética do mobiliário nacional com sua estrutura robusta e conforto extremo. Já a Cadeira Três Pés (1948), de Joaquim Tenreiro, inovou ao unir leveza e elegância ao design artesanal. Outro exemplo emblemático é a Cadeira Paulistano (1957), de Paulo Mendes da Rocha, reconhecida internacionalmente por sua simplicidade estrutural e sofisticação.

No contexto contemporâneo, a cadeira assume um caráter singular na evolução do design brasileiro, combinando criatividade, experimentação e herança artesanal. O diálogo entre tradição e inovação se manifesta na diversidade de propostas, desde o resgate de técnicas artesanais até o uso de novas tecnologias e materiais.

A curadoria valoriza a escolha de materiais e processos produtivos, que vão das técnicas artesanais às abordagens industriais. Entre a ergonomia e a experimentação, a cadeira se transforma, refletindo hábitos e modos de convívio que atravessam o tempo e as culturas.

Serviço

Exposição: “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas”
Local:
 3º andar da Galeria Metrópole – Avenida São Luís, 187, Centro, São Paulo, SP
Data: 10 a 23 de março de 2025
Horário: das 10h às 20h

Entrada gratuita