Eleições americanas
Desencanto com a política

boe-06-ie

Fez sentido ter sido Las Vegas (foto) o palco do último debate da corrida rumo à Casa Branca.

Esta cidade no meio do nada – onde o mafioso Bugsy Siegel plantou nos anos 40 a semente do que se transformaria na Meca da jogatina – recebe milhões de turistas atraídos por suas luzes coloridas, por seus shows inigualáveis e pelo propósito matematicamente improvável de fazer fortuna nos cassinos. É a Disneylândia dos adultos, que parecem alimentar-se de fantasia até a exaustão.

A campanha presidencial na maior potência do mundo viveu o derradeiro embate entre seus protagonistas deixando como saldo pouco mais do que os caça-níqueis, aqui presentes até nos banheiros, costumam dar aos apostadores.

Exatamente como essas maquininhas afrodisíacas, Hillary Clinton e Donald Trump fizeram disparar a adrenalina dos eleitores – que deverão comparecer em número inédito às urnas no próximo dia 8 – sem lhes oferecer ganhos palpáveis, pouco além de ilusões.

boe-01-ie

Para um país com os problemas e os desafios dos EUA, a disputa sucessória entre o aventureiro republicano e a insossa democrata foi predominantemente travada até aqui, sem perspectiva de mudança, num terreno temático situado entre o umbigo e o joelho de ambos, passando ao largo de questões como terrorismo, crise migratória, colapso ambiental, desemprego e estagnação econômica, para ficarmos apenas no cardápio mais presente nas preocupações planetárias.

Tamanho erro de foco não pode ter sido apenas obra dos marqueteiros das duas legendas.

Para analistas como Norman Ornstein, do American Enterprise Institute, o cenário eleitoral americano de 2016 resulta do crescente desprestígio da política junto à população, em especial entre os jovens. Esse vazio progressivo fertiliza o surgimento de franco atiradores como Trump, mais eficazes em seus disparos quando miram alvos que, como Hillary, são a antítese de qualquer coisa que lembre renovação. Está posto o terreno ideal à expansão do que chama de “populismo raivoso”, sem ideologia e adaptável a muitas sociedades.

O quadro desolador não está restrito à terra do Tio Sam. É global. A política desta era está tomada pelo bolor.

Há semanas, palestrando em Curitiba, o ex-senador Pedro Simon pediu à plateia de estudantes que apontasse na cena brasileira alguma nova liderança emergente.

O silêncio que se ouviu foi ensurdecedor.

Cunha
Quem manda

Investigadores da Operação Lava Jato reagiram com surpresa a comentários de que Eduardo Cunha estuda aderir a um acordo de delação premiada (o que pode tirá-lo da prisão) escolhendo quem denunciará. Isso porque não cabe ao ex-deputado tal prerrogativa – e nem a ninguém. O Ministério Público Federal tem uma pauta e o acordo para ser celebrado pela Justiça requer que o investigado mostre muitos fatos novos – e barganhe. Agora é fato que Cunha, com menos poder do que outrora, com a prisão ganhou fôlego para também negociar o seu silêncio.

Política
Blá-blá-blá

O parlamento alemão fez sessão na semana passada para debater o afastamento de Dilma Rousseff. Durou 30 minutos. Até muito tempo, considerando que a iniciativa dos partidos de esquerda não levará a lugar algum. Nem Angela Merkel pretende dar declaração condenando o impeachment, como desejam alguns políticos locais, muito menos o Brasil considera ter havido ilegalidade no processo transcorrido no Senado, com aval do Judiciário.

Medicamentos
Efeito cabeça

boe-02-ie

Os brasileiros devem andar com muita cefaleia. Com alta de 115%, a Dipirona Sódica (Neo Química) aparece como o medicamento que teve maior crescimento percentual em vendas, nos últimos doze meses terminados em setembro. Com isto, o produto saltou da 13ª para 3ª posição no ranking IMS Health, instituto que audita os negócios da indústria farmacêutica no Brasil. O anti-hipertensivo Malea.enalapril (Teuto Brasileiro) veio a seguir, com alta de 52,4% no período.

São Paulo
Noite dos poderosos

Eleito no primeiro turno e o candidato com maior patrimônio à Prefeitura de São Paulo (R$ 179,7 milhões), João Doria também é rico em amizades. Não precisa se preocupar com a dívida de campanha de R$ 6,1 milhões. O jantar organizado em sua homenagem na residência de um renomado advogado no Itaim, na quinta-feira 20, custava R$ 20 mil por cabeça. E teve fila.

Justiça
Devagar, quase parando

boe-03-ie

Doze meses após a Emenda Constitucional 45 garantir ao cidadão o direito à razoável duração do processo, o CNJ pela primeira vez, na semana passada, divulgou dados a respeito do tema. O que os brasileiros sentem se confirmou: a Justiça é muito lenta! Na justiça comum, que julga 69% dos conflitos levados ao Judiciário, a decisão de mérito leva 1,5 ano, em média. Para receber o crédito, outros 2,9 anos. Total: 4,4 anos de duração dos processos. Nos juizados especiais são 4,5 anos. Tá ruço!

Lazer
Samba digital

Se tem um produto que vende ano a ano no Brasil, apesar da crise na indústria fonográfica, é o CD com sambas de enredo das escolas de samba do RJ. Em 2015 foram negociadas cerca de 200 mil unidades e 180 mil, no ano anterior. Na sexta-feira 28 terminam as gravações da edição 2017, para lançamento agora em novembro. E a expectativa de sucesso é maior. Pela primeira vez, a Universal disponibilizará link do físico para o digital, com vídeos sobre cada escola no YouTube e permitindo a compra de músicas em dezenas de serviços de streaming e download, como Spotify, Apple Music, Napster e iTunes.

Clima
Contra a poluição

boe-05-ie

Será em São José dos Campos (SP), em março, a reunião de autores do relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), cuja vice-presidência é ocupada pela pesquisadora brasileira Thelma Krug (foto). Cerca de 100 cientistas nacionais e estrangeiros debaterão, na sede do Inpe, o primeiro estudo depois do Acordo de Paris, em 2015, quando os países se comprometeram a fazer esforços para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5ºC.

Aviação civil
Sem sinal

boe-04-ie

Em voos da TAM, passageiros são alertados para desligarem por completo seus Galaxy Note 7. Os demais celulares podem ficar ativos no “modo avião”. O aparelho vetado é o que levou a Samsung a promover gigantesco recall de 2,5 milhões de unidades, por conta do risco de explosão da bateria. A recomendação às companhias áreas é da Anac, válida para voos nacionais e internacionais.

Fotos: Chip Somodevilla/AFP; red Chalub/Folhapress; Andrew Zuis/AP