A taxa de desemprego de 14,2% registrada no trimestre terminado em janeiro, recorde para o período, carrega forte influência da geração de vagas observada nos últimos dois meses de 2020, ou seja, ainda deve piorar nas próximas leituras, lembrou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Esse trimestre móvel tem uma influência muito grande dos últimos dois meses do ano anterior. Tem dois terços deste trimestre que ainda estão ancorados lá no fim de 2020, que foi um momento em que houve reação importante do mercado de trabalho”, disse Adriana.

A pesquisadora lembra que existe um movimento sazonal na taxa de desemprego, que tende a cair ao fim do ano, com as contratações de trabalhadores temporários, mas subir nos primeiros meses do ano seguinte, quando esses funcionários são dispensados.

“Quando vira um ano, tende de fato a perder força desse crescimento (da ocupação). Com a entrada do mês de janeiro é normal que haja perda de fôlego do crescimento (da geração de vagas) que foi observado do fim do ano”, disse Adriana.

A população ocupada ainda aumentou em 1,725 milhão de pessoas na passagem do trimestre terminado em outubro para o trimestre encerrado em janeiro. No entanto, o total de desempregados cresceu em 211 mil pessoas, para um recorde de 14,272 milhões de brasileiros em busca de trabalho, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE.

Adriana ressalta ainda que a Pnad Contínua divulgada nesta quarta-feira, 31, está retratando ainda um momento anterior ao cancelamento do carnaval em várias cidades brasileiras e também ao endurecimento das medidas restritivas decretadas por governos locais em março para combater a disseminação da covid-19.

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“A gente não sabe quais efeitos virão com a entrada do trimestre encerrado em fevereiro. A gente sabe que o cancelamento das festas de carnaval em cidades importantes pode ter influenciado (o desempenho do mercado de trabalho). A gente não tem ainda informação do trimestre encerrado em março, momento que a gente sabe que está havendo mais restrição”, apontou a pesquisadora do IBGE.

Embora os últimos meses do ano passado tenham mostrado reação no número de pessoas trabalhando, as perdas de postos de trabalho foram muito grandes durante a pandemia, e a população ocupada ainda está em patamar muito aquém do que era no período anterior à crise sanitária.

“O resultado positivo do fim do ano passado não reverte as perdas ao longo de 2020”, disse Adriana. “Estou muito distante de um ritmo de geração de trabalho para fazer essa taxa (de desocupação) baixar”, concluiu.


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