A cloroquina, droga alardeada pelo presidente Jair Bolsonaro como cura milagrosa contra a Covid-19 continua fazendo vítimas. Já se sabe há tempos que o medicamento favorece a ocorrência de acidentes cardiovasculares e piora o quadro clínico de pacientes graves. Agora também se comprovou que ele, assim como outros remédios do chamado “kit Covid”, pode causar arritmias e problemas renais e hepáticos. Somente em São Paulo, o uso do produto levou cinco pessoas contaminadas pelo coronavírus à fila do transplante de fígado no último mês. Médicos relatam a ocorrência de pelo menos três mortes por hepatite. Em todos os casos, as vítimas receberam o famigerado “tratamento precoce”. Mesmo assim, Bolsonaro continua fazendo a defesa do produto e indicando sua utilização.

PROPAGANDA A influencer Flávia Viana foi contratada para promover o tratamento precoce (Crédito:Divulgação)

Nos últimos meses, as notificações na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por efeitos adversos causados pelos remédios do “kit Covid” subiram 558%. Foram também notificadas à agência outras nove mortes associadas ao uso do produto. O que torna a situação ainda mais preocupante é que a propaganda enganosa do governo a favor da cloroquina ou da Ivermectina está levando a um aumento acelerado de suas vendas e ao uso indiscriminado da droga. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ainda não se posicionou contra o “tratamento precoce” para não desagradar o chefe Bolsonaro. No ano passado, o ministério publicou uma orientação para pacientes usarem os medicamentos ineficazes desde os sintomas iniciais da Covid-19.

A loucura governamental com a cloroquina levou a Secretaria de Comunicação (Secom) a gastar R$ 1,3 milhão em ações de marketing para promover suas idéias falaciosas. Dezenove personagens famosos e influenciadores digitais foram pagos para falar do “tratamento precoce” em suas redes sociais. Ao todo, esse grupo recebeu R$ 85,9 mil de cachê. Entre os agraciados por verbas públicas está a ex-BBB Flávia Viana, que embolsou R$ 11,5 mil, e os influenciadores João Zoli (747 mil seguidores), Jéssika Taynara (309 mil seguidores) e Pam Puertas (151 mil seguidores). Todos fizeram publicações no Instagram orientando seus seguidores a procurar imediatamente um médico e solicitar tratamento precoce caso sentissem sintomas da doença. Sem limite, o governo continua praticando o charlatanismo e estimulando a automedicação, levando as pessoas à morte por pura irresponsabilidade.