— Jair, eu apoio o Brasil, você sabe, mas agora tenho de escolher a Argentina. Apoiarei sempre você cara, mas preciso mesmo dar uma força para o Mauricio. Ele está mais aflito e tem mais problemas que você. Isso é a pura é verdade, mas vou dizer que é fake news, sei que você me entende Jair!

O dano que Cristina Kirchner pode fazer aos Estados Unidos se ganhar as eleições na Argentina, é bem maior que qualquer agrado que Donald queira agora fazer a Bolsonaro. Na “Real politics”, ganha quem tem o “Real Power” e hoje salvar Macri é mais importante que cumprir a palavra dada. Neste jogo de forças o Brasil saiu perdendo.

A carta oficial onde os EUA propõem convidar apenas a Argentina (e a Romênia) para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é o retrato desta estória.

O texto da missiva é mais forte como um gol de Maradona em pleno Maracanã. Ainda nem passaram dois meses depois de o Brasil ter liberado o imposto de importação do álcool americano, ajudando a campanha de Trump junto dos agricultores do Midwest, e a promessa fica já por cumprir. Deu Tango em vez de Samba e não é justo.

O estilo mudou, mas no essencial a relação entre os Estados Unidos e Brasil continua a mesma de sempre. Importam tanto os negócios que Jair Bolsonaro prometeu a Donald Trump como os elogios que Obama fez a Lula. Os Estados Unidos sabem que há duas grandes ameaças à sua hegemonia no continente americano. A primeira é o Brasil. A segunda a existência de regimes esquerdistas perto de casa. Uma segunda Venezuela mais a Sul nada tem de interessante para o Departamento de Estado dos EUA.

Por isso, nada mais conveniente que a possibilidade de regresso do peronismo a Buenos Aires para que a Casa Branca mude de opinião e troque um gole caipirinha por um trago de mate. Depois de Bolsonaro ter falado que, se Macri perder na Argentina, o Brasil sai do Mercosul, nem dá para protestar.

Essa mania que o Brasil tem de acreditar na boa vontade dos outros, é um problema. Precisa aprender que as nações poderosas não têm amigos, só têm interesses.